ETERNA NAMORADA

Teus cabelos verdes e vastos e altos e baixos,

Ramas em volta de rios, teu cio, pororoca,

Saltas no despenhadeiro com a volúpia

Do primeiro Ícaro, choca em pelúcia

Ursos e pandas e tartarugas

E a chuva te banha inteira,

Amada primeira...

Rescendes à almíscar em tenda beduína,

Tão bilhões teu passado, todos os teus olhos

De anciã sábia, de menina, pela mão leva a sina

De ser sem ter sido, nem pai, nem mãe, nem guia estrela

No universo incandescido, livre e solta aos pés do sol,

Causas inveja à Netuno e ira à Marte e por sorte

Escapaste da fúria celeste por trazeres água

Em teu bote, teu canto nem sustenido e nem bemol

Faz a ópera planetária surgir dos confins, salva

Teus morantes no instante em que percebe-se

Linda a te cobrir apenas meteórica anágua,

E do medo que sente por repeli-los, às vezes,

Não falarei no dia de te oferecer um coração

Apaixonado e que no teu amor mata a sede.

Amada eterna e que durará enquanto o tempo me durar,

Enfim misturado à todos os teus aromas e sais

De mim não ouvirá jamais um som de imperfeição

Mesmo que vindo eu tenha do berço dos animais

E tenha compreendido minha eterna solidão,

Arte imperfeita que na oficina do amor se faz,

Mesmo reduzido à um composto de poeira de estrelas

Criei-me olhos apenas e tão somente para vê-la.

Pequeno e miúdo e cisco e rabisco e em via láctea grafite,

De modo grande que possa dizer em versos meu amor insiste.