A CARNE

A carne é fraca,

pois a alma é mais fraca.

Tremo de medo,

mas me exponho

e deixo que me deflores

e deixo aflorar em mim

as cores da paixão.

Maquinalmente me enches

e me esvazias

e me enches

e me esvazias

e eu me rendo,

sem gesto de resistência,

e alcanço

o patamar de um pássaro.

O vôo me liberta:

a carne esfacelada,

divinamente suja,

sobre brancos lençóis.

A carne é franca,

pois o corpo vibra

ao sentir teu toque.

Confundo os sentimentos:

amor e posse são

uma só pasta.

Uma massa disforme

ganha sentido e poesia:

comes a pasta,

bebes o suor

e eu me sinto saciada.

Ai a carne é frágil!

Mais frágil é o desamor

que nos separa...

Wanda Maia
Enviado por Wanda Maia em 12/06/2007
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