DIA da ÁFRICA
Rios secos de África
.
Os homens desviaram o curso do rio para
assim o tornarem útil . cavaram
regos imensos para
irrigarem as imensas herdades
.
É esta a linguagem
e entendimento
dos homens .
O rio desapareceu
.
Fiéis – no entanto – as árvores
presas da magia do seu traje verde e
da alegria breve das torrentes do verão
continuam a bordejar-lhe – mantendo-as vivas – as margens – esperando
que ele volte um dia para
as beijar
.
No leito morto,
sementes caídas dos bicos dos pássaros ou das asas fecundantes do vento
germinam . lançam raízes . cientes
de alguma frescura esquiva –
.
e erguem ao sol escaldante
as mínimas
precárias folhas .
como quem chega à estação
depois de o comboio passar
.
.
Joanesburgo
Reserva de Mabula, Outubro de 1996
.
© Myriam Jubilot de Carvalho