Palco vazio

Dá-me teus rijos seios para o beijo,
guarda o pudor atrás do fingimento.
Goza por nós a farsa do momento
nos camarins da arte do desejo.

Despe-te do disfarce e, no ensejo,
faz-me de objeto do cenário.
Deixa guardado, dentro do armário,
os vestígios de mim, como sobejo.

Lê, com vagar, a linhas do diário,
como, nos velhos tempos, eu as lia.
Recita, com voz de atriz, a poesia
como se fosse um mote literário.

Troca o meu beijo doce e solitário,
pelos beijos salgado dos mundanos.
Já borrei teu batom por tantos anos,
que já não caibo mais no calendário.

Bem sabes tu, que quando cerra o pano
no apagar das luzes da ribalta,
se um coração, do outro, sentir falta,
o outro  já achou um novo um dono.

O coração amante é um piano,
capaz de se ajustar ao tom da flauta.
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 18/06/2015
Reeditado em 29/12/2018
Código do texto: T5281579
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.