Jarro solitário

mulher de cama .mesa e café forte

mulher demoníaca e hipocondríaca

de carne crua e pele animal

de olhos risonhos e espeto frio

que acredita em sentimento verdadeiro

tanto quanto uma onda no mar

tanto quanto uma estrela na boate da rua Augusta

ouve uma música no fone de ouvido

sem prestar atenção na calçada

com um gosto de hortelã nos lábios

mulher que não tem memória instantânea

e confunde as pessoas com histórias

de primas, amigas e vizinhas azedinhas

tão moderninha que sabe costurar um avental

e na cozinha faz um miojo básico

para não ter muita louça na pia

que enfrenta de frente o espelho do banheiro

e depois todos os operários da construção

na felicidade da hora do almoço

apertando levemente a mão na bolsa LF

mulher que pinta a unha de verde e azul

canta um pink floyd meio cacofônico

pensa na reencarnação das flores

para o bem das abelhas africanas

para o bem dos mal me queres

para o bem das frases de amor

mulher que não sabe nada de tamanho

não tem trena nem metro

mas que usa um salto alto no primeiro encontro

desejando um final feliz de filme noir

mulher que esconde as lágrimas

engolindo o verbo e as manhãs

sabor de oceano atlântico

sabor de beijo selvagem

tropeça na mesinha da sala

derramando seu blood mary no tapete

e xinga palavrão para as paredes

paredes que nunca respondem

depois com um pano e um balde

amaldiçoa todas as bruxas da terra

carlos assis
Enviado por carlos assis em 14/07/2015
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