Jarro solitário
mulher de cama .mesa e café forte
mulher demoníaca e hipocondríaca
de carne crua e pele animal
de olhos risonhos e espeto frio
que acredita em sentimento verdadeiro
tanto quanto uma onda no mar
tanto quanto uma estrela na boate da rua Augusta
ouve uma música no fone de ouvido
sem prestar atenção na calçada
com um gosto de hortelã nos lábios
mulher que não tem memória instantânea
e confunde as pessoas com histórias
de primas, amigas e vizinhas azedinhas
tão moderninha que sabe costurar um avental
e na cozinha faz um miojo básico
para não ter muita louça na pia
que enfrenta de frente o espelho do banheiro
e depois todos os operários da construção
na felicidade da hora do almoço
apertando levemente a mão na bolsa LF
mulher que pinta a unha de verde e azul
canta um pink floyd meio cacofônico
pensa na reencarnação das flores
para o bem das abelhas africanas
para o bem dos mal me queres
para o bem das frases de amor
mulher que não sabe nada de tamanho
não tem trena nem metro
mas que usa um salto alto no primeiro encontro
desejando um final feliz de filme noir
mulher que esconde as lágrimas
engolindo o verbo e as manhãs
sabor de oceano atlântico
sabor de beijo selvagem
tropeça na mesinha da sala
derramando seu blood mary no tapete
e xinga palavrão para as paredes
paredes que nunca respondem
depois com um pano e um balde
amaldiçoa todas as bruxas da terra