Coração Impuro

Recordo teus dedos em meu peito,

Formosa criatura,

Como o destino de uma canção tem meu arrepio,

Em que sinto o medo de não vê-la,

Onde o ardor tem um brio sublime que espairece,

Como a branca ironia da fumaça

passa como se fosse pura e envaidece meu calor,

Enquanto folheias um livro de amor,

E depois evade-se na misteriosa sombra

De um eclipse da lua cheia...

Uma a uma as estrelas caem do céu,

Durante uma hora, uma hora e meia,

Como gotas de mel numa colmeia.

Antes do teu admirável adormecer,

Para morrer sob os cabelos que em silêncio penteia,

Aos poucos, como lhe convêm,

Neste entressonho que proporciona o sono,

Que só os loucos e insanos tem,

ao observá-la através da garoa fina de cada manhã,

notar-te debruçada na janela

de uma nuvem branca macia e singela,

-como se fosse um atol cercado pelo infinito-

A ver subindo pelos raios de sol,

Os anjos atingidos pela luz solar amarela,

Como criaturas belas, saídas do nosso despertar;

Antes mesmo de tocar o solo forjado,

Açoitado pela terra impura de nossos corações,

Fugindo dos segredos que são meus,

Como se pudessem ser salvos milagrosamente

Pelas mãos misericordiosas de Deus.