A Flor e o Fragmento Desse Carinho

Estou pronto a me colocar

em seu caminho,

Sozinho no céu dissoluto, azul,

Com cheiro gostoso de ozônio,

Disposto em brandas camadas aquosas,

Mornas e aconchegantes,

Desse espaço carinhoso

que não me parece mais ser infinito,

E serve de ninho

para que cresças dentro de mim.

Pondo-se como uma folha

verde e vistosa,

Elaborando o botão que se deleita

precipitado repentinamente,

No caule protegido pelos espinhos,

quando já era a rosa,

A cobrir meu coração

com a sombra dessa suspeita.

Enlaçada ao peito

nos momentos de ponderação,

Depois de uma xícara de chá

de hortelã com limão,

Quando fico sentado no tapete da sala,

confortavelmente, gosto de pensar ,

Em quais sonhos serão os meus

quando se deita,

Compreensiva do tempo

e de si mesma, altiva no céu,

Que submerge a noite,

No remoto balanço da superfície dessa vida,

como estrela pertencente ao mar.

E renasce no pólen inflamado,

Solto no ar,

Nas tardes de estio,

onde todas as coisas são notórias,

E a vida é o fragmento da dor incômoda,

De uma pequena farpa

no dedo da memória.

Os insetos zumbindo

e as cores fortes desse dia,

São como as nuvens

girando em volta de meus olhos,

E a cada volta

tuas pegadas marcam a minha tarde.

Silenciosamente enquanto arde,

Brotando num sentimento desnudo

crescendo sobre nossas cabeças...

Assim como o firmamento

aproxima-se de mim para chorar,

Percebo que até mesmo o vento

mostra compaixão,

E sopra um murmurinho,

Não sendo mais complacente

com sua força,

Que alicia sua morte

suplicando por carinho e perdão.

Meu pranto é o lamento

de um animal devorado,

Entregue a fraqueza

de não mais poder lutar...

Estando em desatino, tristemente abatido,

Esqueço tudo que superei

e renuncio, indisposto, a alegria,

Para ser o alimento

contido pela sua alma.

Entrego-me ao furor

dessa armadilha fria do destino,

Para transformar-me

num instrumento detido,

Tocado e ressentido, apenas, pelo seu amor.