Os Últimos Versos Que Escrevo

Estes últimos versos que escrevo,

Perdidos no enlevo

ao se desprender, acalentados de paixão,

Pelo meu infortúnio,

São verdadeiros em seu querer,

Que componho obstinado sob a chuva,

Lamentando inutilmente

seus úmidos sentimentos de ilusão,

Para o além refestelado,

Revelado no abandono do que sou eu,

Refém de um sonho convivido sem o sono

da paz que acorrenta alguém,

Preso ao seu longo esquecimento.

Como a tinta revestida de poesia,

É a manta fria que me encobre,

Repousando ao sabor invisível do vento

Sou marcado pelo destino risível

da minha pobre noite,

Desnudada sob a cortina da sua inconstância,

Que não pode evocar a imensidão desse infinito,

Devastado pela minha tolerância,

Que te intensifica, amada, nua e pura,

Com sinal de lágrima nos olhos

Embarcando nesta estranha nave que parte

E ao mesmo tempo fica,

Naufragada em minha ignorância,

Rememorando as estranhezas desse mar

Insatisfeito com a maldade,

De um negro oceano sem profundidade,

Que se resvala no contentamento de seus braços,

Onde não existe espaço para abraçar,

Nem mesmo para sonhar com as perguntas

Desfeitas sem as suas respostas,

Jogadas no piso da minha sobriedade,

Expostas no chão insosso sem cultura, sem fé,

Sem a razão que a tristeza alcança.

Admitindo o vagar de uma esperança

Que a emoção enlaça

Ungida como a casca de uma árvore,

Enrugada pelo tempo que passa...