Antiga Musa
À Sra. G.
Doce Giulia, estás perdida
Para sempre – disso eu sei.
És agora bem mantida
Pelo teu esposo e rei.
No momento mais que certo
Não te disse o que sentia.
Não te tenho mais por perto,
E meu cor, sozinho, esfria.
Mas não penses que inda eu sinto
Tudo aquilo que senti.
Acabou – não, eu não minto,
Como nunca a ti menti.
Hoje ao ver tua bela imagem
Num retrato sorridente
Foi p’ra mim como miragem,
E vieste à minha mente.
Aqueceu-se o cor um pouco
E pensei como seria
Se eu tivesse sido louco
De dizer o que sentia.
Acabei eu concluindo
Que p’ra ti foi bem melhor.
Não ’starias hoje rindo;
Viverias bem pior.
Tu em terra estrangeira
Moras hoje com o amado.
Dize-me: de que maneira
Estarias ao meu lado?
Morarias inda agora
Na cidade onde vivias.
E teu sonho de ir p’ra fora
Ficaria p’r’outros dias.
Pois não tenho condições
De manter-te qual rainha.
Não mereces aflições,
Nem mereço ter-te minha.
Ao meu lado não terias
Tudo aquilo que hoje tens.
Junto a mim tu viverias
Com tristeza e alguns vinténs.
Doce Giulia, estás feliz,
E só isso é o que me importa.
Levo a vida sem motriz:
A esperança me está morta.
E depois de tantos versos
Fico só a imaginar
Quantos rumos tão diversos
O Destino pode armar.
P’ra findar, só digo adeus –
Nada mais tenho a dizer.
Pouco a pouco os sonhos meus,
Que são fracos, vão morrer...
Itatiba, 8 de Janeiro de 2007