Alquimia

Sangra a terra pisada dentro de mim

sem o teu sal sereno,

E mesmo assim sei que vais voltar,

bebes o mar,

Toma-me para colher o fruto

crescente em meu peito,

Abrandando o fogo

que tremula em seu perdão,

Irradiando ondas de euforia

nas frases coloridas,

Arrumadas com delicadeza em tua boca,

Ditadas no leito repartido,

Com silvos milagrosos

feitos de ventania,

Dentro de mil formas de vidas,

sobrevivendo a tristeza deste poema

rasgado por sua incompreensão,

Como a neve desce

no torpor aberto dos teus braços de cordilheira,

Espalhando friamente

a brasa que vai se acender,

Derretendo-a novamente por inteira,

no fogo do meu ser ,

Perdido em seu aconchego,

Para ser partilhado

Na paz que traz o seu abraço.

Diz agora o que devo fazer,

Dançar na aurora?

Regozijar-me na plenitude do amanhecer?

O fogo estonteou-se, virou névoa,

E seu dissabor demora a esmaecer,

Quero esquecer o desafeto

encontrado a cada breve momento,

E espalhar as cinzas para te reacender,

Sem nenhum arrependimento,

Pois tu és a chama

elaborada em meu espírito.

Queria deletá-la

Com um toque numa tecla,

E logo depois trazê-la de volta do arrependimento,

Para, quando reescrevê-la mais simples,

Nutrir o meu coração,

Soprando em teus ouvidos,

Como se fora a brisa, com zelo,

As linhas desta súplica ferida

Que meu anseio renega ao morrer,

Qual travessia cumprida dos meus passos,

Pelos receios desta vida.