POEMA DE AMOR FERIDO

Era eu agarrado a Estela.
Era Estela agarrada a mim.
Sôfregos, trocávamos beijos
a caminho do igarapé.
Não olhávamos nada ao redor:
a estrada vazia escondia
nosso segredo de paixão.

No afã dos beijos e das mãos invasivas,
esquecemos
que havia um barranco
no meio do caminho, no meio
do caminho havia
um barranco, havia um barranco no meio
do caminho.
Nunca esquecerei
que havia um barranco.

E nós, esquecidos, rolamos
barranco abaixo.
Estela por cima, eu por baixo,
Estela por baixo, eu por cima,
um trombando no outro,
sobre pedras pontiagudas.
Estatelados no fundo do barranco,
ficamos sentindo o sangue
escorrer.

Por sorte, Zezinho punheteiro estava
nos seguindo pela estrada
e, ao nos ver maltratados e lascados,
no fundo do barranco,
chamou o SAMU.

Dentes e ossos quebrados,
pele arranhada, esfolada,
olhávamos um para o outro,
feridos,
mas apaixonados.

Um dia, Estela me trocou
por um tal de Estêvão.