A Incompreensão do Meu Amor
Não me peça, não esta noite,
Uma noite a mais
sem a razão domar,
Na emoção que se desfaz de um riso ferido,
Por termos nos encontrado na distancia,
Remidos ao balanço das ondas,
Levados pelos braços deste mar.
Mesmo sem a doçura
de sua inquietação,
Peço silenciosamente que me acuda,
Enquanto me apertas
em tua preocupação,
Num sentencioso abraço,
Tecido em cada laço
das redes de pesca corroídas,
Entregues ao desembaraço do sal,
Pela irreverente
e atroz poesia desnuda,
Que parece o abismo lido entre nós.
Iguais as frases que li em Neruda,
Perdidas entre a fragrância das palavras,
Caídas com o receio
de uma extravagância,
Ao conquistar a liberdade,
Quando tocada nos teus lábios pelo anseio
que lhe vem,
E em devaneio imerge
no vão sedento de meu coração,
Alheio ao medo,
Que deixará saudade
nas costas nuas de suas mãos...
Em meu peito há de reiterar-se,
Do amor guardado
na porção de um ultimo raio de sol.
Numa tênue corda
esticada sobre a tua fronte,
Que cruzo com esforço,
Equilibrando-me a cada passada,
Para ver-te fervorosa
no torpor do horizonte,
Escrevendo na linha inexatamente prosa,
Sobre a incompreensão
do meu amor.