Estro Para os Loucos

Ouso dizer que estou tão perdido...

Busquei suportar a dor, mas apenas respirei a poeira

que estava a beira dos livros de Neruda,

Ditando frases em espanhol,

Que resultaram em teu sabor ambíguo,

Triste e obscurecido como resíduo

de uma nuvem cinzenta encobrindo o sol .

Tremo ao pensar que vivas em meu corpo,

Logo eu, morto no itinerante poema da vida.

A existência de uma peça que, talvez, não encene jamais.

Morro obcecado pela paz

que não encontrei na sentença do seu coração,

Pois deveria, ao menos uma vez,

ser agraciado pela quietude da tua presença,

Mesmo sabendo que a verdadeira poesia desse mundo

está na emoção de caminhar por estradas tristes e carentes,

Sempre sob a mira envolvente

de alguma paixão.

Te digo, porém, antes que me torne uma gota

e desapareça no espaço,

Na cor azul do mais profundo infinito que existe entre nós,

Ensaiarei um poema

onde falarei dos teus males,

Contando em detalhes as coisas pequenas, desiguais,

que arrisco traduzir em minhas palavras ditas,

Proscritas quando foram encharcadas de espanto e ternura,

Na procura das frases que sumiram

quando foram escritas com letras garrafais,

para comparar minha composição com o teu sonho,

vivido no rastro das coisas que um dia se foram,

Mas, nunca partiram.

Por isso ouso dizer que estou tão perdido...

Busquei suportar a dor,

mas apenas respirei a poeira

que estava a beira das palavras de um Neruda empobrecido,

Ditando no meu ouvido frases em espanhol,

que resultaram em sabor ambíguo, destituído do meu amor,

Triste e obscurecido como resíduo,

de uma nuvem cinzenta encobrindo o sol .