SEXO, AMOR, PALAVRAS
Antes do sexo, as palavras.
Sem elas, uma quase prostituição.
É preciso que a tua voz
acione em mim
um sentimento outro.
Preciso que me tomes
primeiro o espírito:
depois o corpo, se quiseres,
é todo teu.
É preciso que fales
em mágica
e poesia,
e meu olhar será todo em ti,
um olhar de pedinte
na beira da estrada.
É preciso que tenhas histórias
e reconheças a grafia
do prazer espiritual.
O sexo, para mim,
começa na boca,
no som da voz,
nas palavras.
Sem isso, animais no cio.
Se não há palavras,
ao menos o toque
seja de ternura
e não de invasão,
de arrebatamento.
De mãos entrelaçadas,
antecipamos o porvir
dos corpos em descoberta.
Sem ternura no toque, estupro.
E eu permito que venhas,
que entres,
que fiques.
Mas hás de me dizer
as palavras certas,
o santo-e-senha de meu sentir.