A porta que se abriu

Você me chamou para um canto

Com um olhar de despedida,

E com voz em tom de pranto,

Disse que estava dividida.

Me pegou desprevenido.

Fiquei surpreso ao sentir

Meus bloqueios já caídos

E teus bloqueios ainda ali.

Mas a Vida tendo nela

Descidas e reviravoltas,

Sempre abre uma janela

Quando se fecha uma porta:

Em meu ser houve um estrondo,

Um libertar de correntes...

E vi voarem, feito pombos,

Meus medos, agora ausentes...

Com a vista então curada,

Vi tua alma em um lampejo.

Senti uma ânsia saturada

Em paixão e em desejo.

E eu te senti por inteiro:

Tua dúvida, mágoa, tua dor...

E o meu coração, sorrateiro,

Mais pra perto de mim te puxou.

E eu duvido que ela sinta

Doce liberdade, presa em teus braços,

E que ofereça, com um laço de fita,

O coração, outrora em pedaços.

Agora o tempo é a minha sorte

E a Esperança maior que o tempo a esperar,

Visto que eu vivi em meio à morte

Até você, finalmente, chegar.