Amor das mãos
As mão dele estavam impacientes
Uma se lançava no ar
Em total liberdade
Indo bater na superfície da mesa
Bem arrumada
A espera do jantar
Bem a sua frente
Querendo que a veja
A outra mão dele
Parada
Observava aqueles dedos longos
Femininos
Com unhas pintadas
Parecendo cerejas
Enquanto a direita dela
Timidamente procurava
Tocar na mão esquerda dele
A outra mão tão masculina
Num ímpeto arrojado
Se agarra aquele pulso
Adornado com pulseira
Como náufrago querendo viver
Mas sem perceber
Já estava de coleira
Agora, sem resistência e pudor
As mãos dela se abrem
E as dele se entregam
Aos enlaços, aos movimentos
Das palmas que se exploram
Vão subindo para os braços
Contornando os corpos
Não deixando mais espaços
Passearam... Passearam...
Apesar de se gostarem
Tiveram de se soltar
Bailaram no ar num adeus
Para quem sabe
Nunca mais se verem
Eram mãos que se amaram
No entanto pertenciam
A dois seres
Que apenas se usaram.