Diz-me

Diz-me agora,

com quais cores me queres,

Como as do sol a pino

Que me enche de calor,

Ou a cor de dobrar-me como um sino

dentro do teu coração,

Badalando uma canção de amor?

Como podes ser esse temporal

aqui dentro, agora,

Se tu vais-te com os ventos

balançando as folhas lá fora...

As pratarias lustradas

dos raios de luar,

Vem sem nada perguntar,

embrenhar-se com alegria,

Com a dor dessa agonia desejada

em minha insônia,

A machucar a tez da pele macia,

Tão sombria

quanto a tua lembrança

a se refugiar em meu peito.

Temo na escuridão,

Aquela que tu luzia,

Sendo a flor esmaecida

pelo seu tormento,

Com a exatidão profana

das sombras de magnólias

e rosas rubras de encantamento,

A findarem-se a todo o momento

em compaixão com o inverno,

que frio já não me faz...

como a distancia de seu abraço terno,

E envolto a luz esquecida do passado,

os ramos preguiçosos da noite

Se fazem adejados.

E partem rumo ao céu,

procurando te encontrar.

No lume crepitante do teu seio amada,

sou uma fogueira que acena ,

e do pequeno monte em brasa,

Pense que levantarei voo

das cinzas por ti sopradas,

Na distancia lúgubre

que nos ensaia

a dançar interinos,

No pó da lua que trouxemos,

Desamparada, aos nossos pés,

A flutuar sem gravidade,

como bailarinos.

Giotto-di-Bondone certa vez mandou uma mensagem ao papa, uma mensagem de perfeição, com um único lance do pincel, traçou um círculo perfeito. A mensagem da perfeição até hoje é uma busca, para que se saiba de sua dificuldade, nem um computador é capaz de fazer um círculo perfeito.

Em 1300, ano de Jubileu e da Indulgência Universal, o rico mercador Enrico Scrovegni comprou a Manfredo Delesmanini, por 4000 Liras, as ruínas da antiga arena romana de Pádua, os edifícios anexos, o pomar e as vinhas. Tratava-se de uma pequena parcela de terreno sem qualquer igreja. Por esta razão,Enrico pede ao Bispo Ottobono de’ Razzi autorização para a sua construção. Três anos mais tarde, em Março de 1303, Enrico Scrovegni inaugura a capela com cerimónia de consagração. Tendo convidado Giotto para pintar frescos no seu interior, o pintor sugeriu prolongar a estrutura da capela, conforme mostrado na cena do “Juízo Final”, onde um um modelo da capela em miniatura é apresentado à Virgem Maria.

A 25 de Março de 1305 os frescos estavam terminados e foi celebrada a nova consagração da capela. Após a segunda inauguração, (uma vez pintado o “Crucifixo” da iconostáse e os painéis de madeira com as doze constelações na Sala della Ragione) Giotto deixou Pádua e nunca mais regressou. A Capela de Scrovegni (também conhecida por Capela da Arena) tornou-se numa obra de valor universal.

A capela (m 21.50x8.50x12.80), dedicada a Santa Maria da Caridade (consagrada ao amor de Deus e à humanidade), foi coberta de frescos com a seguinte disposição: 1) Cenas da vida de Maria (registo no

topo, perto do presbitério); 2) Cenas da vida de Cristo (segundo e terceiro registo); 3) Cenas da história da humanidade (parede base). A leitura das imagens começa com a cena da “Expulsão de Joaquim do

Templo” e termina com o “Juízo Final”.

A perspectiva, utilização das cores, emoções humanas, nobreza das personagens, estudo do espaço pictórico e a harmonia e musicalidade dos tons são um encanto para os olhos e para a alma. Giotto recriou episódios da vida de Maria e de Cristo retirados dos Apócrifos e

do Evangelho.

Durante séculos, luz, cores e temas dos frescos de Giotto transmitem uma mensagem de fraternidade universal e de paz. Paz difundida nas superfícies arquitetónicas, no verde dos prados, no verde silencioso dos bosques que anima as montanhas. Paz que emana do rosto das personagens, reveladores de uma humanidade inquestionável. A beleza de uma existência onde o cosmos não se revolta contra

a violência de muitos, mas projeta na sossegada musicalidade do azul uma espiritualidade incorpórea que nos transporta a mundos interiores, a significados mais profundos da existência humana.

O azul de Giotto (parcialmente deteriorado pelo passar dos séculos) transporta-nos “em direção aos infinitos e longínquos lugares do espírito” (J. Itten). Embora não seja o azul (caríssimo) do lápis-lazúli, que se induz a partir do alto do céu estrelado da capela é a referência incoercível a uma temática: a história da humanidade começa num plano superior, decorre na terra - tanto a história religiosa como civil - e regressa ao plano superior, onde teve o seu início.

A 6 de Fevereiro de 2000, Pádua comemorou o sétimo centenário da aquisição da Arena e do início dos trabalhos de construção da Capela de Scrovegni. Desde então, e ao longo desta década, a mensagem de

Giotto será mais uma vez proposta ao mundo. Aquele azul ainda invoca a origem comum da Humanidade:

diz certamente algo aos chineses, onde o azul é um símbolo de imortalidade; aos europeus, que o vêem como uma vitória do humanismo face ao racionalismo; aos árabes, para quem o azul é a cor da felicidade; aos povos nativos da América, que associam o azul a uma existência animada por valores morais. Azul céu que acompanha o brilho das mais impensáveis conquistas científicas.

http://www.biblioteca.fct.unl.pt/sites/www.biblioteca.fct.unl.pt/files/documents/pdf/Blog/Brochure_Giotto.pdf