PEDACINHOS ( 21 a 30 )
XXI
O gêlo, enquanto se forma,
Vai despreendendo calor . . .
Também a felicidade
Nos vem através da dor.
XXII
Teus cabelos de cetim,
Quem me dera descrevê-los !
Dizer-te o que vive em mim,
Por causa dos teus cabelos . . .
XXIII
Disse-te, que emoção grata !
Intercalando mil beijos :
" Estás na medida exata
De todos os meus desejos ! "
XXIV
Distante dos teus olhinhos,
Sigo tristonho, pensando,
Nas pedras que há nos caminhos
E nas quais vou tropeçando.
XXV
"Vou confessar meu amor "
Digo quando estou a sós.
Ela chega . . . Que amargor !
"Onde está a minha voz ?"
XXVI
Canto. Fumo. Bebo. Estudo,
E, que coisa singular !
Embora fazendo tudo,
Não consigo te olvidar !
XXVII
O feliz sorri na vida,
Vendo nela, o seu jardim,
O desgraçado na morte,
Da desgraça vendo o fim . . . !
XXVIII
Nos meus momentos de tédio,
Nos meus momentos sem calma,
Escrever é um remédio
Que faz tão bem à minha alma !
XXIX
Quem ama mesmo que esconda,
Sem querer demonstra o amor.
Escondida a violeta
Se revela pelo odor.
XXX
Fica assim, nesta atitude,
Que na febre de carinho,
Vai meu lábio, na inquietude,
Fazer, em teu lábio, o ninho.
10/07/07