Versos para quando vier florir-me
Tenra carne de cereja no meu pavê,
Doce é o teu encontro.
Que fosse,
Minha incidência contigo é provar-te.
Provar-te é como aliciar a primavera,
Abandonar todo o sal da vida,
Escapar da ferida imposta pela sinceridade
Pelo que há de mais sutil e feliz.
Tu escreves no meu peito essa receita,
Um recital de luz em sossego.
Provo o coração que não morre,
E outra vez ele me parece latejo,
É o beijo, alucinação...
Só as folhas não me importam,
São elas que te cobrem de brevidade,
Enquanto no absurdo das tuas unhas,
Deixo-me prender,
Pela lembrança ondulante de seus cabelos
Por trás das orelhas...
Sobre teus ombros vejo escurecer o tempo
Uma eterna madrugada,
E tu nasce no mundo que carrego,
Onde a claridade é a paciência do meu dia,
O olhar em que exercito sua existência...
não me acharás,
Por amor não me encontrarás, estou só,
Sou o resto de tantas outras coisas
que não ouso lhe dizer.
Sinto os jasmins numa brisa de verão,
As angélicas adormecidas no chão,
Postas a chorar na grama ainda tão verde...
É a minha redenção orvalhada,
Quando podes florir-me.
Amada, voltas a ferir-me,
Sem impor nenhuma aflição
E tua boca segreda as minhas palavras,
Já não as digo, nem sinto dor.
Porque dizê-las, se me parece inútil,
trazê-las abraçadas pela tua cintura,
Numa dança mágica, comovida,
Como é a vida que tivesse me percorrido,
Se, e, de tanto amor, não tivesse morrido...
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