Retalhos

Eu não sou sombra

Nem tampouco claridade

Treva que dentro de mim assombra

Escurece-me em inverno, diuturnidade.

De certo vida não haveria

Num mar feito de gotas de mim

Águas sem ondas, rala baía

Mar agitado, tormentas sem fim

Deixei-me ser tela da vida

Recebi dela traços profundos

Tais pinceladas cravaram feridas

Dividiram-me em dois, implodiram meus mundos.

Sou preso em algemas ferrenhas

Cativo e açoitado por meus anseios

E meus desejos combustam tal qual a lenha

Na incessante fogueira de meus devaneios.

Dentro de mim já não me encontro

Fora de mim não percebo ninguém

Meus olhos atados, traídos e tontos

Me mostram o que querem, me fazem refém.

Afinal de todas as contas

Não sou verbo, não sou canto, nem sou prosa

Semeio a verdade que a ti desaponta

E renasce mentira, então, fabulosa.

Tiago Russo
Enviado por Tiago Russo em 30/05/2016
Código do texto: T5651308
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