Uma simples declaração de amor
Tua pele macia e desejosa de carinho dançou,
Rodopiou ao vento,
Trouxe-me o impuro da solidão desfeita,
Corroborou o intento mais suave que em ti se deita,
E me ensinou a ler os teus sinais.
Sei agora da tua esperança a compor os versos da primavera
Como se fosse luz
Numa simples declaração de amor.
Porém, o tempo não sabe de nós,
E enraivecido seu eloquente brado se envaidece,
Tornando-o escuro, na permissão de um abraço desferido;
Pois é noite na mata singela,
Em que corre minha natureza espirituosa,
tu surges como a lua, em minha janela
como um semblante de rosa que percebo,
ilustrando a agonia de um animal infeliz,
O qual, ferido na alma, pelos espinhos do seu coração,
Vai despetalando-se na tristeza,
É uma flor intensa regada pelo nosso pranto...
Verte de longe o jorro da água das cascatas, ouço-a,
Brilhando ao sol da manhã, que cegasse a secreta obscuridade,
E pela primeira vez, numa alquimia discreta,
Raios de ouro misturam-se em cores de prata,
quando subimos ao céu,
Engolindo as nuvens irremediavelmente sofridas,
Para cuidá-las e compreendê-las;
De tão compridas em minha existência,
Tornaram-se tuas asas reticentes.
E, diante dos meus olhos emocionados
tens a mim como sede indecente de uma pintura abstrata,
Na extensão das palavras ditas em tua boca,
Fosse ela, a lavra compartilhada em rouco acorde,
e, sem igual, brotaria num ramo de amor
Quando, de puro desejo, na boca tu me morde.
E ainda, com louvor do dia te vestes
de algo que me tornou prodigo e pleno,
Convertendo o amanhecer num verso de espera,
Espantando o ódio para um lugar mais ameno,
O ódio que as pessoas insanas têm,
Pedintes do sereno orvalhado a formar agora o nosso leito,
Cansado de nos ferir em pesadelos;
Onde o teu sonho vem me fazer dormir em paz,
Em pérgula romântica no meu jardim,
Que o teu fugaz desejo consome em ondas do que me faz calar,
Já não é o sono que me maltrata,
É o barco a velejar na tarde, que teu pincel desenha e retrata.
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