Carta de adeus

Eu vi teus olhos a desprezarem aquele que era devoto a ti até mesmo na alma. Vi destilar teu veneno por entre inebriantes beijos. Eu vi, que eras armadilha de amor; surto de loucura, ardor de paixão. Sentir cortar a alma como quando o punhal da morte penetra a carne, enquanto riam-se teus olhos na festa da ingratidão.

Foste fria, feito o frio do fio da espada que a nada tem por certo bom, enquanto corre desesperadamente em busca de acontecer. Vi meus olhos a procura de uma ilha, terra firme. Mas, qual o náufrago em tempestuosa aflição, eram os olhos meus, ante a sensação de final que para mim foi a tua inesquecível partida.

Amaldiçoei o deleitável do nosso dia, lavei o rosto para acreditar que tudo aquilo acontecia. Era feito o atleta no seu ultimo instante para a vitória, quando a desafeiçoada e fria morte resolve tirar-lhe a gloria, como solitário pardal no canto escuro do envelhecido telhado, lembrava-me de tudo que um dia eu fui ao lado teu.

De mim não terás nada mais que o respeito por todos os momentos os quais se nos revelaram a intimidade real. Subirei ao palco da ilusão. Vou cantar alucinadamente a noite inteira, exorcizar-me de ti. Enviarei convite especial para tudo que me alude, será a festa do meu nascer. Quando ressurgirei eu, da rocha que é o coração teu.

Secarei cada lagrima que se esvai pelo meu rosto levantando a cabeça e me fazendo saber que maior que a minha tristeza, é agora minha paz, por deixar esse tronco, essas algemas, esses cravos que a ti me prendiam. Meu leito foi o choro, a coberta as minhas lagrimas de dores que já não doem mais.

Vi que os olhos de todos se prendiam em ver minha agonia, senti a pena de todos. Como quando ao desprezível é oferecido arrego, como se faz com o desesperado quando se quer sentir sua dor. Angustiosa dor que me fez penar entre os braços da ignomínia de mulheres vis, na companhia de homens exauridos de paz e amor.