Sem Juízo

Desenho sobre o teu rosto

Doces pétalas marcadas de saudade

Tragadas na canção de um lindo dia,

É a brisa a te enlaçar,

Com seu alvorecer perdido,

Fazendo sinfonia, presenteando o coração...

Revoa a tristeza, delineando a aura das flores,

Mas com sutileza tu as espantas e devora;

Retém, em meu peito um rio, (fluo demoradamente)

Perpetuo as curvas sinuosas

em que tu afloras,

Cheio do teu contentamento, enluo,

Vazio de complemento,

Que é o intento de completar-te,

Entregue à balsa que navega em cada gota de orvalho;

És o suposto soro da noite, amada,

A afugentar minha dor,

Mesmo que esteja com os olhos rasos d’água

Cais madrugada na alma que tu alimenta.

Se não dói, é apenas saudade,

Porém, estou longe para dizer-lhe quando nasce,

E próximo do teu completo espairecer,

Devo obedecer, é tua vivencia,

Aconcheada às palmas de minhas mãos,

Estonteado, e enaltecido de tanta carência...

Dá-me paciência para louvar-te com poesia,

Dá-me força para nascer a cada dia,

Chuva que lava toda reminiscência,

Em que sou a poça desiludida;

Tu vens, lava minha ferida, entrega-me voluptuoso,

Embora a dor de sofre-te seja descabida,

Tua luminescência é o sol, suntuoso,

Vagando em brilhos instantâneos

Feito tuas mordidas carinhosas em meu coração;

E, o afago que tu detém,

Vem liberto, quando repousas no meu peito,

Fazendo-me refém de tua liberdade.

E aí, no frio da tarde, já sem juízo, sou cinzento;

Diante da loucura que me faz padecer,

Tu me apareces a arder

E me queima por dentro,

Pousando os olhos no horizonte, vendo-me morrer....

https://www.youtube.com/watch?v=In9ObckBGEI

Uma alma perfeita move-se numa dimensão completamente diferente: de A para A1, para A2, para A3 – e isso é eternidade; é viver num eterno agora. Eis porque desaparece deste mundo.

Para entrar neste mundo, você tem de ser imperfeito.

Diz-se nas velhas escrituras que sempre que um homem se aproxima da perfeição – muitas vezes isso acontece – deixa alguma coisa imperfeita para poder voltar.

Conta-se que Ramakrishna era viciado em comida, era obcecado. Pensava o dia inteiro em comida. Conversava com seus discípulos e, sempre que tinha uma chance, corria até a cozinha para perguntar à sua mulher: ‘O que está preparando? Que novidade está fazendo para hoje?’ Muitas vezes até sua mulher se sentia embaraçada e dizia: ‘Paramahansa Deva, isto não fica bem para você.’ E ele ria.

Um dia, sua esposa insistiu, dizendo: ‘Até seus discípulos se riem disso e falam: ‘Que espécie de homem liberto é Paramahansa?”.

Ele era tão obcecado por comida que sempre que Sharada, sua mulher, lhe trazia a refeição, imediatamente dava uma olhada na thali para ver o que ela estava trazendo. Esquecia tudo sobre Vedanta, sobre Brahma, e às vezes era muito embaraçoso, porque havia pessoas presentes e elas achavam um absurdo um homem liberto ser preso à comida.

Um dia, sua esposa insistiu:’Por que você faz isso? Deve haver alguma razão.’

Ramakrishna disse: ‘No dia em que eu não o fizer, você poderá contar mais três dias para eu estar vivo aqui. Quando eu parar, este será o sinal de que só estarei aqui por mais três dias.’

Sua esposa riu, seus discípulos também riram e disseram: ‘Isso não explica nada!’

Eles não conseguiram acompanhar o significado do que foi dito.

Mas aconteceu exatamente assim.

Um dia, sua esposa chegou com a comida e ele estava repousando em sua cama. Ele virou-se de lado – geralmente pulava da cama para olhar. Sua esposa lembrou-se do que ele havia dito: que viveria apenas mais três dias quando se mostrasse indiferente à comida. Ela não conseguiu segurar a thali; a thali caiu e ela começou a chorar.

Ramakrishna disse: ‘Mas todos vocês queriam que isso acontecesse. Agora, não se preocupem. Estarei aqui por mais três dias.’

No terceiro dia, ele morreu.

Antes de morrer, disse que estava preso à comida só para continuar ligado a alguma coisa imperfeita e poder estar com os discípulos, servindo-os.

Muitos Mestres fazem isso. No momento em que sentem que estão se tornando completamente perfeitos, prendem-se a alguma imperfeição só para continuar aqui. Caso contrário, esta margem não é mais para eles. Se todas as amarras são rompidas, seus botes rumam para a outra margem, não podem permanecer aqui.

Assim, eles mantêm alguma amarra, mantêm algum relacionamento, encontram alguma fraqueza em si mesmos e não permitem que ela desapareça. Desse modo, o círculo não é completado, uma lacuna permanece. Através dessa lacuna, eles continuam aqui.

É por isso que os hindus, os budistas e os jainistas, por terem conhecido muitos mestres, sabem que a perfeição não é deste mundo. No momento em que o círculo se completa, desaparece dos seus olhos. Você não pode ver, não está na sua linha de visão, está além – lá você não consegue penetrar.