Eu venho do alto das Gerais e trago prendas num embornal puído
Eu venho do alto das Gerais e trago prendas num embornal puído
é matula de matuto: água de mina, rapadura, farinha e a boa nova
colhida no caminho dos campos floridos descobertos de alfenas.
De Minas trago amor, o amor que é ginga de palavra cantada
palavras de dança trançadas em terreiros antigos.
De onde venho, homens vividos fazem versos de 'lado-está-vago'
da esperança da morena distraída juízo mole do rapaz encantado.
Eu trago a lua debaixo dos pés e uma serpente na mão esquerda,
trago versos brancos e pretos, versos livres de mãos dadas.
Trago amor de Minas e canto o suspiro esquecido nas emboladas mordidas e doces quinem resto de rapadura no girau deixada.
Eu venho das Gerais, trago fumo de corda, trago incenso de mirra,
num dos bolso, dois pequenos maços de sempre-vivas debotadas.
Vaguei pelos campos desde a alfena até a vereda encharcada
onde colhi palmas de buriti na invernada para o telhado desta casa.
Esta casa de barro.que no então construí para dar pausa na caminhada
e poder escrever o que tinha vivido, o quanto tinha sofrido e o quando de sua pessoa tinha sentido a falta.
Nesta casa, feita de braços erguidos no barro das ancas do novo rio São Francisco, a janela do meu peito se abre para a prenda mais rica que é a vista do cerrado: o cerrado vivo que impressiona e muda por inteiro de forma e cor o tempo todo na nossa cara para dentro do peito.
Trago amor de Minas e não é atoa: é para te oferecer na forma de flores antigas, singelas, flores brancas e brutas, flores da inocência não colhida no jardim da nossa infância.
TTudo que coube, trouxe - o mais do retorcido é cansaço.
Venho de longe, toda gente já sabe, das minas trago amor.
Baltazar