Estava sozinho comigo mesmo

Estava sozinho comigo mesmo

Olhando a parede quando chegou

Um homem alto mastigando queijo

Que me olhou e para mim falou:

"Bom noite, pode me chamar de Caos,

Mas Fromage é o meu apelido,

Este queijo aqui é feito de cal

E meu coração, de couro curtido."

Era deveras um homem caótico,

Mas ainda tinha um quê de fótico.

Por esse fótico não enxotei

A criatura e mandei-a sentar-se.

Obedeceu-me? Só grunhiu "Sentei"

Dobrando as pernas sem esforçar-se.

Estranhado, mas jogando o jogo,

Perguntei de onde vinha a figura,

Ela respondeu que do meu estômago;

Fugiu pois lá era uma loucura.

Uma loucura na minha barriga?

Senhor Fromage só queria intriga!

Que então há dentro desta barriga

De onde saiu assim tão pomposo?

Ora, pensei que só tinha comida,

Mas me parece que há algo de novo.

O homem engoliu seu queijo-cal

E me disse uma grande asneira:

"Além de nunca ter queijo com sal,

No seu estômago há borboleta!

E não só uma, há muito inseto!

Pra ficar lá, só sendo um intrépido."

Pedi o número das voadoras,

Ele disse que eram vinte e sete:

"Hay en ti veintisiete mariposas!!"

E dançou louco, feito marionete.

Tantos insetos na minha barriga?

Como eles foram parar ali?

Parecia até uma mentira,

Mas por que Caos mentiria pra mim?

Fromage dançava e eu pensava...

Tratar-se-ia de uma piada?

Arremessou-se por minha janela

E foi pro céu chacoalhando os braços

Berrando às nuvens "Eu sou canela!" -

Deus, há no mundo homens mais bizarros? -

Varri o restinho de cal no chão,

Joguei aquilo num saco de lixo,

Então, de repente, meu coração

Gritou assim: A vida faz sentido!

Sorri e apanhei meu telefone,

Tinha de contar a minha simone.

"Querida, não posso dizer por quê! -

(Nunca iria acreditar em mim) -

Mas, céus, por favor, precisa saber:

GOSTO DE VOCÊ DUM JEITO SEM FIM!

Por sua causa o caos foi embora,

Foi porque você me deu borboleta.

Em paz, então, meu desejo agora

É que seja a minha julieta!

Para estar junto, enfrentando tudo,

Desde agora até o fim do mundo!"

28/11/2016

Malveira Cruz
Enviado por Malveira Cruz em 29/11/2016
Reeditado em 29/11/2016
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