Amor etéreo

Quando o ar desce a campina,

Alimentando a vida como um pequeno dia,

-Que mal começou a nascer-

Ele chora como uma criança recém-nascida,

Tocando a brisa que o fascina,

Brincando com as folhas macias no milharal;

E os galhos de goiabeiras se vão balançando,

Escondendo o sol na sombreira ,

Em raios ainda serenos formando um portal

Cercado de muros voláteis ,

Refletidos no repouso das asas das borboletas ...

Machuca-me essa luz dos teus olhos de flor

Que esperava se abrir,

Como se descobrissem no fulgor a retidão da primavera,

Filtrada na água que desce pela canaleta,

Criando um prisma.

Girando lentamente a roda dentro do córrego...

É a vida que abre os espaços fomentando teus braços ,

Onde posso ver a terra úmida beber,

e ainda, vermelha ,

-alusão ao “terra queimada” da minha paleta-

Vir banhar-se de contentamento .

Ensopar-se e sorver a ilusão do tempo,

Onde os graus de miopia curam-se com a poesia,

Acomodando-se tranquilamente

Naquela nuvem em forma de algodão,

Cobrindo com uma tinta imaginária de aquarela

A fantasia desenhada na paisagem,

Marcada com carvão,

Enquanto o pincel desce raspando a tela,

Dissolvendo o que era negro na primeira neblina,

Aclarando palavras que tem a forma de uma ilha,

Cercada por um mar de folhas desmoronadas,

Depositadas na superfície vazia de sua tristeza ao relento...

O que era um sombreado passageiro,

se esvai passivo e demorado

Lembrando o rocio de cada manhã

Sendo eterno sob o frio seduzido da madrugada,

Caído na geada de cada inverno,

e congelada nessa armadilha,

essa lágrima fica no peito aguardando o verão,

Como as rimas presas pelas grades da sua janela,

Compõem os versos presos seduzidos pela noite,

sem o anseio da alvorada...

E, por mais que o sol tarde a morrer,

Teus sonhos não te deixarão amanhecer,

Sentada na varanda do meu céu,

Sentindo que tudo é doce, como o mel excedido no hexágono,

e a lida é a paixão da tua madrugada.

Mesmo perdida entre brumas e quimeras,,

Quando amanhece, percebes no canto da varanda

uma aranha tecer uma longa rede,

e a cadeira empurrada pelos seus pés balança,

palpita e espera,

enquanto no coração, seu amor etéreo dança ....

https://www.youtube.com/watch?v=Es3Vsfzdr14

https://www.youtube.com/watch?v=Us-TVg40ExM