A Casa

Enquanto o sabiá aprendia a assobiar

Dentro da casa sabia murmurar

Em leito tão nobre

Minha mãe

Vossa excelência descobre

O vulto dos lençóis de aurora

Da cozinha à sala de estar

Comendo doces d’ambrosia

Paraplégico o mundo que é

Estou em cadeira rolante

De galho em galho

De estante em estante

Vulgo menino da mão sombria

Decapitar os próprios traços

Sem domínio dos passos

Em meio ao terraço

Em pleno espaço

Vou transmutar tua matéria

Em matéria de amor

Como a alquimia

Química, ciência ou pura magia.

Equivale o existente

Para o ser inexistente

Oferece-me o coração que te dou outro em vão

Oferece-me tua alma categórica, seca e sarcástica.

A vidente sem bola cristal

O jardineiro alérgico a flores

Acima do meu pedestal eu vejo

O mundo sem cores

Cortejando os horrores.

Geovanny Lino Coutinho
Enviado por Geovanny Lino Coutinho em 01/08/2007
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