A Casa
Enquanto o sabiá aprendia a assobiar
Dentro da casa sabia murmurar
Em leito tão nobre
Minha mãe
Vossa excelência descobre
O vulto dos lençóis de aurora
Da cozinha à sala de estar
Comendo doces d’ambrosia
Paraplégico o mundo que é
Estou em cadeira rolante
De galho em galho
De estante em estante
Vulgo menino da mão sombria
Decapitar os próprios traços
Sem domínio dos passos
Em meio ao terraço
Em pleno espaço
Vou transmutar tua matéria
Em matéria de amor
Como a alquimia
Química, ciência ou pura magia.
Equivale o existente
Para o ser inexistente
Oferece-me o coração que te dou outro em vão
Oferece-me tua alma categórica, seca e sarcástica.
A vidente sem bola cristal
O jardineiro alérgico a flores
Acima do meu pedestal eu vejo
O mundo sem cores
Cortejando os horrores.