Confissão

Meu avesso está do avesso

Tudo exposto e explicito

Meu ser nem é meu

Não mais

Me entrego feito noiva

Feito filho arteiro

Feito eu, apaixonada.

Todos os órgãos à vista,

Meu preço é alto

O que cobro e o que pago

Será que me escondo?

Como posso?

Como?

Se o que quero mesmo

É me expor nas ruas

Se quero me despir

Se meu corpo me quer nua

Se meus olhos revelam

Minhas mãos não negam

Como esconder o que sinto?

Se as mãos tremem

Se o coração me gela o corpo

Se as pernas bambas denunciam?

Como flor desabrocho e me exalo.

E como guardar em gaveta o que escrevo?

E como não dizer que eu amo?

Como não dizer que admiro?

Como não dizer que eu quero pra mim?

Como calar sentimento e fogo?

Me entrego feito criança ingênua.

Entrego tudo que tenho e fico vazia.

E pra me preencher,

Colho migalhas de esperança.

Sou agora menina de oito anos.

Sou apaixonada e sou criança.

19/01/2017

Camila Cabral
Enviado por Camila Cabral em 19/01/2017
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