CANÇÕES DOS JOGOS DO AMOR & OUTROS POEMAS(CONTINUAÇÃO)
A MULHER QUE EU NÃO TIVE
A mulher que eu nunca tive
Habita só meu pensamento
Acho que vivo porque ela vive
Respirando o ar que respira
Esse amor que me inspira
É o que dá contentamento
Sonho que um dia a contive
Nos braços quem nunca tive
A mulher que eu nunca tive
É uma folha bailando ao vento
Um triste anseio que se vive
Uma ilusão ou uma mentira
No coração de quem delira
Querendo tê-la num momento
Num beijo que nunca contive
Daquela mulher que nunca tive
A mulher que eu nunca tive
Que nunca deu consentimento
Nada que eu tente a cative
Quando passa me olha e vira
E meu coração enche de ira
Deixando-me com ressentimento
Em prol da esperança que mantive
num castelo de areia que se vive
A mulher que eu nunca tive
É uma alucinação e sofrimento?
Talvez seja a ilusão que se vive
Mas não a tiro do meu pensamento!
BENDIGO
Bendigo todas as horas contigo
e os momentos que tive de solidão
da saudade dentro do meu coração
na espera quando ficava de castigo
Bendigo o teu passado de aventura
e tudo que de errado pensou fazer
coisas que nenhum homem atura
mas aceito tudo que vem me dizer
Bendigo esse amor e quase tudo
mas tem coisas que não posso bendizer
o sentimento que carrego é mudo
porém maldiz quando me faz sofrer
Maldigo o amor que me escraviza
que sem querer às vezes maltrata
pois aquela que me quer e destrata
deixa dentro de mim uma ojeriza
Bendigo o que querendo ser aparentas
bendizendo os teus acessos de loucura
embora não posso bendizer criatura
se nada me diz quando te ausentas
Bendigo mas não entendo o porquê
pouco fala algo entre nós dois
deixando o assunto sempre pra depois
daí fico sem saber nada de você
Bendigo o nosso amor a jura o desejo
e toda a satisfação que tem de me amar
bendigo a tua doce maneira de falar
quando me pedes algo além dum beijo
Bendigo a fé de termos ainda esperança
de buscarmos um noutro tanto prazer
bendigo ter conhecido em ti essa mulher
que me ama mais do que faz cobranças
Bendigo cada primor que tem seu riso
quando estás comigo a conversar
bobo que sou fico a te contemplar
como se de repente perdesse o juízo
E assim de tudo isso que bendigo
do pouco que te oferto entretanto
é que te faço parte do meu canto
bendizendo o tempo de estar contigo
Bendigo esse amor o tempo inteiro
bendiria mais se ele não fosse escasso
em cada verso meu fica o seu traço
demonstrando que meu amor é verdadeiro
Bendigo enquanto for minha amada
pois não te bendiria se não fosse
bendigo sinceramente o que me trouxe
a bendizer tudo sem bendizer nada.
QUANDO EU ME CHAMAR SAUDADE
Ah! quando eu me chamar saudade
se arrependerá talvez de tudo
que deixou passar na realidade
por não entender meu gesto mudo.
Ah! quando eu me chamar saudade
ficará somente uma lembrança
da beleza que ficou na idade
para que vivamos de esperança.
Ah! quando eu me chamar saudade
não me mande suas cartas por favor
porque desejei somente seu amor
e você se comportou como covarde.
Ah! quando eu me chamar saudade
não mande entregar flores nenhuma
porque não darei resposta alguma
de cartas e flores pela amizade.
Ah! quando eu me chamar saudade
lembre de tudo que me fez sentir
porque não quis seu amor retribuir
sufocando meu amor e liberdade.
Ah! quando eu me chamar saudade
lembre o que passei longe de ti
das horas de solidão que senti
numa noite de insônia e ansiedade.
Ah! quando eu me chamar saudade
não chore mágoa da minha partida
lembre que passei pela sua vida
te amando com afeto e intensidade.
Ah! quando eu me chamar saudade
não quero de flores um ramalhete
somente desejo um simples bilhete
pra te responder que me aguarde.
Ah! quando eu me chamar saudade
diga pra mim que se arrependeu
admita que perdi e você perdeu
tendo um pouco de sinceridade.
Ah! quando eu me chamar saudade
saberás que o meu último desejo
morreu na minha boca como um beijo
e que não passou duma saudade...
DICAS DE ESCREVER PARA UMA MULHER
como escrever para uma mulher
são várias opções e um dilema
tentar fazer boa carta ou poema
depois esperar que ela venha ler
antes atente para um detalhe
não pense usar com ela de falsidade
mas sinceridade e pouco de maldade
que pureza demais há que atrapalhe
escreva o que quiser à bessa
tudo que o coração determina
não minta quando lhe enalteça
cada uma possui alma de menina
de vez em quando diz uma mentira
de forma que somente a envaideça
nunca desperte portanto sua ira
nem a maltrate quando não mereça
maltrato faz parte do contrato
mas até pra isso tem que saber
fazer bem com certa malícia e tato
pra que nunca venha te esquecer!
por isso quando pra ela escrever
não precisa buscar vocábulos raros
como quem pensa dar presentes caros
achando que conquista uma mulher
simplesmente para conquistá-la
não se arquiteta planos nenhum
há de se ter sempre algo em comum
demonstrando virtude em amá-la
daí vá esperando que anoiteça
fume um cigarro e tome café
reze um padre nosso com sua fé
depois deixe que tudo aconteça
escreva o que melhor lhe convier
sem que seja nada doutros poetas
não queira decifrar coisas diletas
nem adivinhar o que só ela deseja
pois o segredo da alma feminina
é encontrar a maneira de cativá-la
às vezes a tratando feito menina
quando a meiguice não atrapalha
como escrever para uma mulher?
você já tentou e não consegue?
tem medo que leia e lhe entregue?
achando que não vai te compreender?
como é que pode de tudo saber
se nunca escreveu com sua emoção
deixando a caneta ser o coração
e o papel sendo a alma da mulher.
Da mulher na ignorância digo eu
que tem dentro de si ânsia secreta
e uma sensibilidade tão discreta
que fora não jogaria um verso teu.
Como escrever para uma mulher?
pergunta depois da dica que dei
meu amigo... eu mesmo escreverei
um versinho meu se ela quiser...
Você não entende nada de mulher
pensa que éla só cede na cantada
mas toda mulher quer ser amada
precisa de alguém pra compreender
que não basta somente escrever
mas ter virtude e alma apaixonada
portanto não precisa mais nada
daí se escreve bem para uma mulher!
Rio, 22 fev 95
TRAIÇÃO
Assim fui cedendo aos teus apelos
tão carente do seu amor e companhia
como nas prendas dos teus cabelos
minha vida a sua tanto se prendia
Tratei a ti mulher com tantos zelos
mas o amor aos poucos se perdia
sofrendo o coração quem em perdê-lo
amor que há bastante tempo me traía
Tudo em foi então se acabando
como se nada tivesse acontecido
quando a via passar de vez em quando
depois de deixar meu coração partido
Amor que eu talvez nunca merecesse
pelo fato de me haver assim traído
embora não tenha nada que perdesse
não tenho-te o amor por esquecido
Não esperava que comigo acontecesse
amor que se demonstra tão bandido
quando pinta qualquer desinteresse
um de nós dois há de sair ferido.
Mas dessa vez quem se machucou foi eu
que perdi o amor que um dia foi meu...
ESSA
Essa que mais do que a ela me procura;
e que na verdade outra igual não terei...
Conhece meus gostos mais do que sei
como se eu pertencesse a essa criatura!
Essa que já me acompanha durante
muitos anos, desde quando menino.
Têm cuidados comigo duma amante
e a devoção materna do ser feminino!
Ela está sempre para mim bonita e disposta,
dificilmente não sabe do que eu quero,
e não sei, por que de mim tanto gosta,
nem deixa que a espere mais do que espero.
Ela nada mais é que divina inspiração;
Entrou em minha vida bem de mansinho
quando cedi um abrigo e meus carinhos
a essa poesia! fruto da imaginação...
CABELOS BRANCOS
"Queres cortar os teus cabelos? Corta!"
Pensando que assim está remoçando
pode cortá-los porque não me importa
mas lembre que o tempo vai passando.
Não sei quem pensas está enganando
cortando os cabelos que brancos estão
porque não me importa de que cor são
se queres ludibriar a idade até quando?
Lembre que brevemente virão as rugas
e não adiantará mais as suas fugas
porque é a velhice que está chegando!
Prefiro o charme que tem seus cabelos
do que achar facilidade em perdê-los;
porque mais moça há de ficar imaginando!
SONETO
Pra mim você não é mulher fatal
nem tens encanto duma feiticeira
talvez jeito de fêmea guerreira
chamo a ti minha pedra filosofal
que provavelmente nos cabelos brancos
traça seu destino e toda sabedoria
da mulher que antes não conhecia
até juntos tomarmos Martine Bianco
Pra mim você não é mulher fatal
mas possui um charme e beleza tal
que explique a natureza vaidosa
Dentre as mulheres que já conheci
nenhuma delas foi tão poderosa
e foi por te conhecer que eu cresci
MULHERES E ROSAS
Ambas têm a mesma natureza
são extremamente delicadas
nasceram para ser amadas
e para dar amor com certeza
Ambas fica tão amarguradas
se não usam com elas delicadeza
deixa dentro delas uma tristeza
se por acaso forem maltratadas
Mulheres e rosas são semelhantes
ambas têm virtudes interessantes
ambas têm pétalas tão sedosas
Mulheres costumam ser vaidosas
tais a rosas dentro do jardim
têm fragrâncias e qualidades afins
MINHA FRAQUEZA
Minha fraqueza é ficar diante de ti
demonstrando ser seu melhor amigo
tal uma criança que fica de castigo
que simplesmente mentiu como menti
Daí vem a idéia de querer fugir
como toda criançinha também pensa
mas nosso medo deixa uma sentença
que nos faz dessa idéia desistir
Minha fraqueza é toda hora te ver
tendo que esconder o meu prazer
para não perder toda sua confiança
Minha fraqueza foi perder a virtude
e me dizer amigo tendo esperança
de conquistar a mulher que não pude
O POETA E A LITERATURA
Fui conquistando espaço pouco a pouco
compreendendo a complexa tessitura
da palavra do verso da mistura
na pesquisa que fazia como louco
fui desvendando então cada mistério
como se cada frase me intrigasse
e por mais que aprendesse não bastasse
forjando o meu metal desse minério
em ti buscava a essência do que sou
quando meu corpo ao seu se amoldou
e fez de nós dois uma só criatura
assim a cortejo tal uma rainha
capaz de te amar com tanta ternura
mesmo que não seja somente minha
Sou teu poeta amada LITERATURA
GAIVOTAS
O poeta contemplando as gaivotas
de Cabo Frio voando tão serenas
como se fosse aquelas aves amenas
sua alma sentiu-se delas tão devotas!
que ele ficou horas imaginando
sentado nas brancas dunas de areia
ouvindo o canto que ao longe gorjeia
e o vento como se tivesse uivando...
Daí ele foi dando asas à sua alma
que voou como se não tivesse volta
se distanciando tal a uma gaivota
"Numa profunda e inquebratável calma"
O EQUILIBRISTA
o poeta foi um dia ao grande circo
e se encantou com o equilibrista
os animais amestrados e o show do mico
além dos palhaços e malabaristas
então o poeta fechou os olhos bem
e se transportou ao palco dos artistas
e fez acrobacia como não faz ninguém
no trampolim e na corda do equilibrista
apresentou a si mesmo quando subiu
na corda bamba... agiu naturalmente
como se fizesse um verso de repente
demonstrou-se à vontade deste jeito
com a apresentação que tinha feito
mas tudo fora um sonho porque dormiu
BEIJA-FLOR
O poeta tinha visto um beija-flor
à distância paa não espantá-lo
que não imaginava de encontrá-lo
quando resolvia pegar uma flor.
Daí escondeu-se detrás da moita
para não assustar o beijar-flor;
evitando causar qualquer tremor
senão a avezinha ficaria afoita.
Percebendo que alí tinha alguém
pois coube ao poeta então refletir bem
perdendo poucos instantes preciosos;
assistiu a ave ter o néctar sugado
da flor que ofertou algo delicioso
eh... nada mais levou que o aprendizado.
A MÉTRICA
A métrica fez pergunta ao poeta
porque seu soneto não tinha pausa
respondendo ele quis saber da causa
julgando ter sua forma completa
A métrica não satisfeita ainda
dizendo ao poeta que seu soneto
mesmo tendo quadras e tercetos
não alcança aquela forma linda
só a consegue aquela que se esforça
que sabe escandir bem a qualquer verso
dentro daquela camisa-de-força
o poeta naturalmente adverso
disse que não precisa dela tanto
porque o soneto não perdia o encanto
A BORBOLETA
A borboleta que não me pertence
a vejo sempre numa certa distância
que me deixa aflito na inconstância
num jogo de nervo ela me vence
a borboleta que contemplo apenas
não sabe nada do desejo do poeta
quem tem dentro de si ânsia secreta
que hora quer prender ora tem pena
de tirar a liberdade de uma borboleta
vendo numa coleção uma coisa morta
que o colecionador não se importa
porque não tem sensibilidade do poeta
a querendo nos olhos somente pertencida
... se a colecionasse morreria outra vida!
O POETA E O FILÓSOFO
O filósofo um dia indagou ao poeta
qual a verdadeira essência da vida?
(poeta) é o amor que nos completa
e torna o ser cheio de docilidade.
O poeta também indagou ao filósofo
diga-me qual a razão do próprio ser?
(Filósofo) a razão é a existência
na busca do conceito e saber.
O filósofo - Diga-me poeta quem és?
sou a mensagem que apenas propõe
ao homem que despertando ele sonhe.
O poeta - Diga-me filósofo quem és?
Nada mais sou do que nunca fui
e (in)constantemente persiste em ser.
A CIGANA
O poeta foi na tenda da cigana
para que ela então lê-se sua mão
e dissesse coisas do coração
e da vida patética e mundana.
Quando ela começou... que desatino
com lágrimas nos olhos tristonha
disse para ele que somente sonha
e que toda abstração é o seu destino.
E o poeta não ficou aborrecido
Apesar de deixá-lo assim sentido
com aquela artimanha da cigana.
Pensou: "Ele vive no mundo da lua"
E pediu que a pagasse muita grana
Eh, ele deu notas falsas, e foi pra rua!
O PÁSSARO
o poeta põe o pássaro na gaiola
mas o seu belo canto fica preso
na garganta como um som de vitrola
quebrada porque fica tão reteso
aquele canto que antes se expandia
na livre virtude do seu destino
que numa primavera assim se irradia
quando o canto fica mais cristalino
o poeta priva da ave a liberdade
e o canto dele perde sua essência
perdendo pouco a pouco sensibilidade
o poeta no verso perde encanto
fica inquieto perdendo a paciência
até libertar a ave para o vôo e o canto.
A CIGARRA
A cigarra que compete comigo
consegue cantar quase todo o dia
seu canto é mais forte que a poesia
e embora tente mostrar que não ligo
sei que o canto dela é o meu castigo
porque meu canto é só uma utopia
e o dela na manhã toda irradia
que causa inveja ser seu inimigo
a cigarra canta divinamente
e por mais que tente não alcanço ela
vendo-a assim tão sublime da janela
ouvindo aquele canto estridente
a superar o meu tão diferente
que em vão tenta se comparar ao dela.
A MULHER
o poeta encontrou a mulher por acaso
quando ela então ofereceu um beijo
despertando nele o seu desejo
foi assim que tiveram um caso
mas a amada estipulou um prazo
e o poeta ficou meio sem jeito
que o amor já ardia no seu peito
e para ele não era somente caso
o poeta a deixou entrar em sua vida
foi se envolvendo pouco a pouco
teve paixão ficando quase louco
não quis admitir a sua partida
viveu alimentando um romantismo
na ilusão do seu próprio fanatismo.
A MERETRIZ
O poeta visitou a meretriz
e levou bombons e buquê de rosas
e ficaram horas trocando prosas
e com tudo isso se sentiu feliz
ele não a tratou de prostituta
não quis apenas se satisfazer
buscando o mero objeto do prazer
como todo homem assim desfruta
o poeta a encontrou seminua no quarto
se apresentou cheio de cortesia
disse que não era demagogia
se demonstrou amigo tão sensato
falou de mil coisas (ela sorria)
mas disse que a hora de partir chegava
foi quando percebeu que ela chorava
e o poeta lhe ofertou uma poesia
beijando sua mãos saiu pela porta
disse adeus e as rosas ficaram mortas
A TARTARUGA
As vezes penso que tenho muitas rugas
coisas que na verdade não as tenho
nem tudo embora pense obtenho
mas tenho em casa uma tartaruga
Ela anda e pára e fica pensativa
como consegue levar a vida não sei
tanto faz progresso tanto faz a lei
vai seguindo fora do sistema V I V A
Eu é que fico me martirizando à bessa
ela não sabe se começa ou não começa
eu escrevo poesias e resolvo problemas
ela come porque vive e eu porque como
e a vida pra mim é luta pra ela é cômoda
(pois preciso mais de pão que de poema)
A VAMPIRA
O poeta andava pela madrugada
perambulando solitariamente
quando apareceu na sua frente
uma mulher que surgiu do nada
tão linda de vestido provocante
e um olhar enigmático e atraente
aproximou-se com ar indiferente
trazendo uma fragrância insinuante
Eh de repente ofereceu seus seios
disse naturalmente que a beijasse
embora ele demonstrasse receio
daí ela num tremendo desassossego
abraçou-lhe para que se entregasse
e ao mordê-lo depois virou morcego
A LUA
O poeta ficou contemplando a lua
e se apaixonou porque era tão bela
ficando a noite inteira na janela
como se à noite assim tivesse nua
ela estava ornada de véu de estrelas
magestosa naquela noite sua...
e o poeta enfeitiçado foi pra rua
desvairado queria ficar com ela!
ter nos braços aquela coisa branca
como se a lua dele tivesse anca
o poeta libertou as suas fantasias.
Depois... despertou do seu sonho
quando clareia ele fica tristonho
porque a lua fugiu quando amanhecia!
A DISTÂNCIA
Ele mediu passo com a distância
entre o ponto que ele se distancia
arremeçou feito um dardo a poesia
cuja flecha fosse sua inconstância
Foi calculando essa distância
ultrapassou o tempo com aleivosia
porque viajou nas asas da utopia
pois nele não cabia tanta ânsia
o poeta demonstrou que ele podia
fazer tudo num estalar de dedos
assim foi desvendando seus segredos
porque o tempo nada lhe garantia
nem a vida o devesse mais valia
mas sabia que a distância era seu medo.
O MAR
O poeta estava contemplando o mar
assim fez uma saudação de suicida
de braços abertos prontos para pular
reverenciando abraçou a si mesmo
As pessoas pensavam que era louco
e riram dele depois daquele susto
achando que ele tinha pensamento oco
mal sabiam que o poeta não se afogaria
no céu transformar-se-ia em pássaro
e nas águas um peixe então seria
para a satisfação do instante breve
na extrema evocação da fantasia
sentindo sua alma ficar tão leve
desvendando o mundo da sua poesia
A SEREIA
O poeta estava em alto mar
velejando quando ouviu
um canto de uma sereia
olhou pros lado e nada viu
continuou no barco à vela
seguindo seu próprio destino
achando que podia vê-la
de repente no meio das águas
o poeta solitário foi seguindo
até que apareceu diante dele
a forma de um corpo lindo
Acenando com encanto pra ele
que de tão embevecido pela imagem
se atirou ao mar em homenagem
CONTEMPLAÇÃO
Quando contemplo a beleza
que está para além de ti
contida na natureza
É onde ali mais te encontro
porque começo a observar
onde estás a cada momento
que sempre posso apreciar
é que além do coração
pousa no meu pensamento
tal ave de arribação
SONETO
Lanças-te tua mão para o carinho
como se de mim tirasse um objeto
tal de Cristo uma coroa de espinho
pela demonstração o gesto repleto
de amor que ao amante contagia
fez-me despir da antiga armadura
que carregava comigo todo dia
em decorrência da vida de agruras
sem esperança que fosse conhecer-te
para mudar o rumo de meu destino
antes da velhice e da própria morte
daí deixei todos os gestos insensatos
e investi num amor real de fato
deixando de ser apenas desatino
Rio, 15 jun 98