(das) Cinzas

O que era grafite se acabou

A esferográfica girou oleosa pela última vez

Eu sou a pena de perder um amor

Você é o meu tinteiro que secou

Poderia tijolo no asfalto, no muro o carvão, vareta na areia

Mas você é chuva e maré cheia

Poderia ser canivetes em troncos de árvores

Mas você é floresta desmatada

Você me via poesia

Hoje me olha piada

Declarações agora são rabiscos

Do flutuar ao “de cara no chão”

Da minha alegria o confisco

O risco deste fogo consumir meu coração

Mas se existe uma esperança eu não desisto

Sonho me imaginar uma Fênix em combustão

Das cinzas o renascer teria seu espaço

Renasceria o cinza do grafite

E esferográfica voltaria a deixar seu traço

O tinteiro seria recarregado por Afrodite

E o amor piegas não seria motivo de riso

E declarações mil se multiplicariam para a pessoa amada

A catarse do amor em versos é preciso

Para se ter um poeta de alma lavada