Florada de outono

A Procela do mar é bater-se bem devagar em meu peito,

Machucando-se nos arrecifes de coral;

Rasgando-se involuntariamente nas ondas delicadas,

Fazendo-nos mal,

Trazendo o teu sangue às narinas;

Como a tristeza perfuma a dor do profundo,

Rasga o céu uma agonia, branca e intacta de paz,

Uma bruma desvelando a loucura da melodia,

Ouço o grito da sombra ao meio dia que permeia a tua alma,

dossel que nos aquietará,

levantando voo sobre as praias raiadas de pedras,

onde teus pés levarão para longe o meu riso...

Não queres tu um rancor, nem eu quero nada,

Deusa, minha amada,

Do alto da cantiga avisto uma nesga de vida,

Vejo-te, em dupla agonia,

Ama-me como ama as flores que te enaltecem em florada,

E encantam seus olhos estrelando o nascer do outono,

No limbo espumático da redenção da aurora,

o precioso lençol estendido,

é arrumado na cama

pela noite que há de ter-nos vencido,

Golpes de pontas afiadas de estrelas

penetram a minha carne, asserenando minha pulsação

Teu brilho me fere,

Mastiga-me a utopia sinistra da brevidade;

Costura-me às costas para que não veja o cicatrizar

da ferida de minhas asas arrancadas...

As horas passam e os dias trazem “nadas”,

Horrendas caricaturas que deveriam ser cômicas,

São pasteurizadas à luz da incompreensão como máscaras!

De seu beijo eu a guardo;

O regato de ti apetece essa recordação doce,

- Os olhos tristes nadando em lágrimas-

Já não nos disseram tudo?

Que há para provar, se nada nos amarra?

Temos o amor e sua boca arrodilhada me consome,

Lembro-me de confissões ditas em teu nome,

Se queres o amor,

Hei de amá-la,

E mesmo triste quando partires,

Sofrerei a dor do seu olhar antagônico,

Uma última olhada, um breve piscar ,

A dizer que sempre vou te amar,

Mesmo no regalo dosador e sintomático de meus sonhos.

https://www.youtube.com/watch?v=l0nlfLr5Zfg