DE SAL E VIDA, SALIVA

Eu quis de frente porque encaro a verdade

cara a cara, de igual para o espelho

quando quase no meu o teu corpo maduro

embrutecido pela vida já fosse eu.

Eu quis teu beijo porque tem forte apelo

antes dele, sôfrego, te desejo inteiro.

Então me beija e cala o que incessantemente penso

e inunda de silêncio o tambor que bate no meu peito.

Pois que é de beber na tua boca que esqueço do mais,

dos ais, esqueço que desejo é desordem

e finalmente encontro paz.

Tu és diamante bruto, tem olhos que faíscam

como os de uma criança indecisa diante da vida

mas quando aprumado me desenhas só de olhar

fazes do rascunho que sou a mais linda pintura íntima.

Meu sangue pulsa ao ver teu riso brilhante,

me sinto um risco no impenetrável da superfície

onde juras de amor alcançam sossego.

O tanto molhado de sal e vida do teu beijo inunda

meu pequeno mundo; no seu abraço mergulho.

Molhado no rio do teu corpo soergo-me adiamantado,

atravesso águas tranquilas homem renovado

novo sob a superfície do impenetrável.

Escorre mel, da boca o desatino;

saliva é para o meu sustento,

vocabulário de tua singularíssima pessoa.

Voa alto o meu amor

tem asas abertas sobre o ninho

e protege o que é nosso

com bico afiado de beija-flor.

Baltazar

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 14/04/2017
Código do texto: T5970527
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