DE SAL E VIDA, SALIVA
Eu quis de frente porque encaro a verdade
cara a cara, de igual para o espelho
quando quase no meu o teu corpo maduro
embrutecido pela vida já fosse eu.
Eu quis teu beijo porque tem forte apelo
antes dele, sôfrego, te desejo inteiro.
Então me beija e cala o que incessantemente penso
e inunda de silêncio o tambor que bate no meu peito.
Pois que é de beber na tua boca que esqueço do mais,
dos ais, esqueço que desejo é desordem
e finalmente encontro paz.
Tu és diamante bruto, tem olhos que faíscam
como os de uma criança indecisa diante da vida
mas quando aprumado me desenhas só de olhar
fazes do rascunho que sou a mais linda pintura íntima.
Meu sangue pulsa ao ver teu riso brilhante,
me sinto um risco no impenetrável da superfície
onde juras de amor alcançam sossego.
O tanto molhado de sal e vida do teu beijo inunda
meu pequeno mundo; no seu abraço mergulho.
Molhado no rio do teu corpo soergo-me adiamantado,
atravesso águas tranquilas homem renovado
novo sob a superfície do impenetrável.
Escorre mel, da boca o desatino;
saliva é para o meu sustento,
vocabulário de tua singularíssima pessoa.
Voa alto o meu amor
tem asas abertas sobre o ninho
e protege o que é nosso
com bico afiado de beija-flor.
Baltazar