Versos se aceitares

Dá-me chance, Princesa, nesta tarde

De escrever-te alguns versos inspirados;

Já deu Deus a esta pena mui coragem,

Faltas tu para dar olhos dourados.

Tais palavras só há por tua causa,

Mais ninguém neste mundo as criaria:

Faço a pena, mas tu fazes a brasa:

Logo é teu o que escrevo em poesia.

(Se aceitares, somente se aceitares.

Doutro modo, são versos de barbáries).

És a Musa, beleza da mais vasta

Tens até ao mais belo dos alados:

Linda Musa, da mais divina casta,

Flores beijam pezinhos teus descalços!

Encontraste-me, há meses, sem caminho,

E quiseste salvar-me de mim mesmo;

Abraçaste-me, deste-me carinho,

Remontaste-me, para eu ser inteiro.

Eu jamais vou pagar-te o que te devo,

Ninguém paga um amor assim, perfeito.

Achei puros teus olhos, um milagre,

O teu corpo não fora envenenado,

Nessa hora, foi como se um alarme

Apitasse em meu cérebro excitado.

Um momento de intenso turbilhão,

Sensações que somente ali sofri!

Ao teu seio foi, quente, o coração,

Sendo aos céus que minha alma, louco, abri.

“Donde vens, de que livro, fantasia?"

“Tal segredo, será que tu dirias?”

Não disseste, mas nunca precisaste:

Desde então, não saíste de meu lado;

Sim, fui Eu, quem passou a fazer arte

Co calor que domina o mais apático.

Mas razão? Isso ainda me pergunto,

Afinal, há milhares de melhores.

Eu só sei que se fui assim, sortudo,

Então devo compor-te minhas odes;

Não que tenham a ti algum prestígio,

Porém elas são tudo o que consigo.

Muito raro é achar hoje um amor

Lindo e puro que seja para sempre:

Ninguém quer amizade sem ardor,

Todos sofrem de amor pobre e doente.

Eu te vejo real anjo sagrado

Que me dás o que não tem o mais rico;

Quem diria que um mal afeiçoado

Poderia sorrir ao seu destino?

Tu fizeste este pobre o mais sortudo:

Menos um solitário neste mundo!

Gentileza benévola, feliz,

Sem igual na tua alma posso ver;

Liras tocam nas vezes que sorris

Musicais p'ra Terra te merecer.

Se pezinhos florescem lindas flores,

Que não fazem com o meu coração?

Teu olhar já afugenta minhas dores

Só me curvo entregado a tua mão.

(Se aceitares, somente se aceitares.

Doutro modo, sou monstro de barbáries).

Tal beleza carregas em teu ser

Que nem ninfas fantásticas conseguem,

Apesar de tentarem, entender

Por que em ti tantas bênçãos se concebem:

És bonita, bondosa, inteligente

E, feliz, te guardaste imaculada.

Até a flora, contigo, é sorridente,

Até os santos, contigo, não são nada;

Mesmo Deus, desenhando tua boca,

Quis provar do que faz a cria louca (!)

Com os pés delicados duma fada,

Com os passos floridos dum milagre,

Graciosa, tens via perfumada,

E os homens se matam de vontade!

És pecado e me tentas ao proibido:

Com beleza controlas meu caminho;

Mas virtude e convite ao Paraíso:

Com amor nunca mais fico sozinho!

És completa, és razão de meu viver,

Doutro modo na vida não sei ser.

E diante de tua excelentíssima

Existência eu me torno quase nada,

De que serve minha alma solissíssima

Comparada a de bela, linda amada?

Suscetível a erros mui terríveis

Eu me vejo nos males que cometo...

Com efeito, nem sei como resistes

Ao poemas que quero, mas só tento!

De escritor, eu sou já um zero à esquerda;

E em amor, meu fracasso cresce, aumenta.

Poucos meses ainda nós dois temos,

Mas primeiros degraus são importantes;

Até Deus ao criar onde vivemos

Começou pelo início antes de avante.

Ah, princesa, um final eu desconheço

Para a nossa missão neste universo,

Mas se julgas que sim, eu te mereço,

Então sei que será no mesmo verso.

(Se aceitares, somente se aceitares.

Doutro modo, sou homem de barbáries).

22/4/2017

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Malveira Cruz
Enviado por Malveira Cruz em 05/05/2017
Reeditado em 02/06/2017
Código do texto: T5989934
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