A.
Seu olhar me guiando através da noite escura
A me afastar de mim e me tornando tua
No cemitério das palavras vazias
Habitam as almas de nossas fantasias
Era Amor ou Heresia o fogo que me consumia?
O brilho em teus olhos era cor ou era dor?
O grilhão em meu coração era Paixão ou era Torpor?
Quem acredita em mentiras: os inocentes ou os infelizes?
A Queda nos espreita dos desvãos ou nos deslizes?
Seu olhar única luz na minha escuridão
Seu corpo palpitando sob o calor de minha mão
Minha mão suspensa sobre o espaço vazio
Como a espera no desvio
Como um lobo uivando sozinho
Fascinado pela nudez da Lua
Pelo sangue a escorrer da carne crua
Hipnotizando fêmeas no cio
Gemendo inconsolável sob a frigidez do frio
Eu, vítima da crueldade disfarçada em sorriso doce
A correr em fuga por quais caminhos fossem
Inda que terminassem nas profundezas de um abismo
- ou na rudeza de teu cinismo
Perdida. Perdida nos labirintos de teus desfiladeiros
Abandonada à maciez e sordidez de seu corpo inteiro
Enlouquecendo nas prisões de seus desejos
Fenecendo sem a loucura de seus beijos
Buscando seu calor nas madrugadas incertas
Gritando seu nome por ruas desertas
Como a infecção numa ferida aberta
Amor travestido numa fantasia perversa
Eu fui fetiche ou fantoche?
Você foi debute ou foi deboche?
Nos escombros das promessas quebradas
Restaram-me apenas a aridez das lágrimas
Núbias de uma solidão indesejada
Pacto trágico traçando o meu destino
As trevas me enterraram sem você no meu caminho
Sua luz onde andará? Qual coração iluminará?
Sol, em que cama te pões, em qual quarto renasces?
Nem uma ilusão sequer me deixastes
Tudo levaste de mim; os sonhos e a esperança
A loucura e as lembranças
A vida e a vivacidade
A fagulha de felicidade
O pulsar de meu coração
Luz dos meus olhos! devolva-me a visão
Que sem você não enxergo mais nada
E são muitos os tropeços nas pedras da estrada
Muitos pedaços de mim se foram em troca de nada
Eu sem você - mutilada
Da parte mais bela de mim
Condenada à Solidão de uma Escuridão sem fim.