Pantomima Celeste (ou Como os Céus Falharam em me Conquistar)

Os Céus me trouxeram a aurora

E, com isso, o meu despertar

Disseram-me então que seria agora

A derradeira hora de me conquistar

Disseram - sua Musa de nada vale

Comparada às minhas pinturas naturais

Peço ainda que se cale

Para admirar meus raios esculturais

E sobre o Azul caminhava o Amarelo

Indubitavelmente, um casal formidável

Juntos dançavam um número tão belo

Num crescendo magnífico invejável

Tudo o que pude pensar, no entanto,

Foi no brilho de teu olhar

Como o Amarelo, iluminando todo canto

Como o Azul, sereno a me acalmar

O Amarelo condensou-se em Ira

O Azul dançou ao seu redor

Das tristezas, o primeiro foi pira

Das belezas, o segundo era o maior

Mas de caloroso basta-me teu abraço

E de imenso me serve teu peito

Onde posso existir sem embaraço

Onde a todo problema dá-se um jeito

Foi vez das Nuvens terem seu intento

Graciosas e leves como o vento

Cobriam os Céus com um mover-se lento

Como um belo e silencioso lamento

Tão delicadas, mas nada originais

Sem nada de novo pelo qual zele

Diferente de teus discursos angelicais

Nem tão macias quanto tua pele

Com minha indiferença, caíram no choro

Banhando a vida num espetáculo à parte

E os Céus uivaram em coro

Um som tremendo para uma tremenda arte

Me fazendo lembrar de teus lábios ensandecidos

Corados, suaves e molhados

De toques que jamais serão esquecidos

De momentos em memória perpetuados

Ao final dos raios e uivos orquestrais

Veio então o Rosa da esperança

Tingindo as Nuvens e suas curvas monumentais

Ao mesmo tempo, com a inocência de uma criança

Mas não eram curvas como as tuas

Não eram simétricas e impecáveis

Suas palavras de inocência eram cruas

Utópicas e indesejáveis

O Céu por fim enegreceu-se resoluto

Compreendeu-me, ainda que de forma confusa

Deitou-se ao meu lado, acompanhou-me no luto

E juntos lamentamos a morte

De minha eterna Musa

Talaris
Enviado por Talaris em 27/07/2017
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