És o Castelo
És o castelo
Jamais abriste-me a porta.
Mas convocara-me de início.
Agora fico aqui.
Tenho de me instalar no gelo, só.
Aguardando a próxima chamada
Afinal, quem és?
Por três anos bati em tua porta.
Recebi teus autos perversos.
Acatei tuas ordens escusas.
E para quê?
Pergunto-me desde então.
Enterrei-me na neve por abrigo.
E os cavalos pisaram a minha cabeça.
Tudo isso por ti.
Para que me condenasse à indiferença.
És o castelo.
E tuas torres são altaneiras.
Negras e imponentes.
São inacessíveis.
E congelam-me o olhar.
Mas tua estrutura é enferma.
Vejo as rachaduras e os arranhões.
Posso prever a tua ruína.
Posso ver os ladrilhos pelo chão.
És frágil, e beira a queda.
Cairá sobre mim e me esmagará.
E juntos descenderemos ao inferno.
Onde poderemos finalmente dialogar.
E finalmente olharei os teus olhos.
Que queimarão como os meus.
E finalmente tocarei a tua pele.
Sem medo do pecado.
Sem medo de afugentá-la.
Sem medo de machucá-la.
Pois as nossas cicatrizes se convergem.
E seremos envoltos por caules espinhosos.
Que nos lembrarão da tragédia da existência.
E nos acorrentarão como escravos.
Perfurarão a nossa carne podre.
Nos desfaremos e ressurgiremos pela eternidade.
Pois a nossa ligação é a dor.
E o ódio é apenas o outro lado da moeda.
Que não está enferrujado como está o nosso amor.