És o Castelo

És o castelo

Jamais abriste-me a porta.

Mas convocara-me de início.

Agora fico aqui.

Tenho de me instalar no gelo, só.

Aguardando a próxima chamada

Afinal, quem és?

Por três anos bati em tua porta.

Recebi teus autos perversos.

Acatei tuas ordens escusas.

E para quê?

Pergunto-me desde então.

Enterrei-me na neve por abrigo.

E os cavalos pisaram a minha cabeça.

Tudo isso por ti.

Para que me condenasse à indiferença.

És o castelo.

E tuas torres são altaneiras.

Negras e imponentes.

São inacessíveis.

E congelam-me o olhar.

Mas tua estrutura é enferma.

Vejo as rachaduras e os arranhões.

Posso prever a tua ruína.

Posso ver os ladrilhos pelo chão.

És frágil, e beira a queda.

Cairá sobre mim e me esmagará.

E juntos descenderemos ao inferno.

Onde poderemos finalmente dialogar.

E finalmente olharei os teus olhos.

Que queimarão como os meus.

E finalmente tocarei a tua pele.

Sem medo do pecado.

Sem medo de afugentá-la.

Sem medo de machucá-la.

Pois as nossas cicatrizes se convergem.

E seremos envoltos por caules espinhosos.

Que nos lembrarão da tragédia da existência.

E nos acorrentarão como escravos.

Perfurarão a nossa carne podre.

Nos desfaremos e ressurgiremos pela eternidade.

Pois a nossa ligação é a dor.

E o ódio é apenas o outro lado da moeda.

Que não está enferrujado como está o nosso amor.

Rafael Gonçalves
Enviado por Rafael Gonçalves em 29/08/2017
Reeditado em 08/06/2018
Código do texto: T6098975
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