À toa

Da tua invasão eu temo,

A rosa, palma da tua mão,

Quando lambe a brisa suave e branca,

com sua concha desavergonhada,

estendida ao aceno...

De tua boca levantar-se-ão mil pássaros

desfraldados ao vento ameno,

resvalados na fenda oculta

que o tempo estribilha,

Como o silvo da flecha de tua ausência;

- Ferida- a que sucumbo!

Silencia , me atrai,

Mata-me quando no peito ressoa,

Qual vento que, à toa, retoca o amor,

Como as velas soltas dos barcos

emaranhados em sonhos...

Pensamento que voa, e dorme,

com o profundo da ondas

no frio das asas quebradas do mar,

espumando nas pedras cálcicas da tua ilha,

junto a um espírito enevoado;

Teus olhos hão de ter-me perguntado,

E o que direi a eles,

Fitando o vazio,

sobre a neblina translucida do meu mundo?

Pouso entre seus dedos,

Desobrigado da monção vagarosa

que habita uma tarde,

Com a mesma nostalgia ávida de tristeza,

que em meu peito,

Quando não cura, ronda-me e arde,

na cicatrização da recém costurada pele

com a tontura sufocada em meu coração...

Em breve,

Vou caminhar sobre as ondas do teu querer,

Viajar com minha alma mais leve,

Desbravando

e descobrindo cada cantinho

oculto do nada,

-Que a noite sutilmente guarda-

Noite esperada de luar,

em que meu pranto insiste em cair,

E ser uma torrente graciosa da chuva,

Resistente como nuvem negra

da face devidamente auspiciosa ,

que persiste em ser avistada num temporal.

https://www.youtube.com/watch?v=9mDfOF8ox1Y

“Agora, de regresso a teu lado, leio-te poesia. Deveríamos ter lido poesia sempre. Os dois. Juntos. O amor também é feito de palavras. Palavras que nos podem acariciar por dentro, onde as mãos não chegam, onde os beijos não alcançam.”

João Morgado