A NOITE
Há muitas noites na noite...
Se não me falha a memória
E pelo que ainda me lembro,
Numa dessas noites de outrora
Sonhei o filme de minha história
De profundo pesar trajado
E soterrado em ruínas por dentro;
Assisti à valsa das lembranças
Ao som de um violino desafinado
E a ventura guardada no peito
Nessa noite sem estrelas
No manto escuro foi-se...
Embora eu quisesse retê-la
Na alma de qualquer jeito;
Restou do filme de minha vida
O remorso que me corrói agora,
Filho da culpa que alimento
Por ter mantido esquecida
A doçura do dia ensolarado
Em que provei o sentimento
De amar e ser amado,
Que vivi como efêmera aventura
Quando poderia ter sido ventura;
Mas a jato o tempo voou
E hoje já é tarde demais
Para avivar o sonho finado
Que o vento funerário levou
Para o cemitério do passado,
Onde o sonho jaz
Velado e sepultado.