Teu coração virtuoso (retranca)

1

Quando o vi, co'aquele ar tão jovial

Correndo, andando acompanhado

O seu semblante um fado tal

Me atacou o espírito cansado:

Misto de ódio o peito tão amargo

Triste penúria por ser rebaixado

Senti que a tua tão majestosa graça

Desonrada pelo fel de meus braços

Tinha direito em ser recompensada,

Inda que tu pouco caso fizesses

Do deleite em voga, e suas benesses

2

Fugi na angústia, reservei-me a dar

Ao ser egóico um tépido suspiro

Ataquei-o, dei-lhe longo soluçar

Pois tu não mereces estar comigo!

Como podes tu fulgurar a mim?

Eu, filho descendente de Caim?

Aceitando minha condição, dei

Permissão mental para que tu fosses

Para onde fosses, ora! Eu deixei...

Mas tu és à inocência tão servil...

Surpreende meu tão bobo peito vil!

3

Voltaste a mim, como sempre fizera

Inda co'a chance de deleite eterno

Ou fugaz, que seja!; Não dera ao terno

Fogo a explosão da vontade efêmera

Talvez sequer o teve, sequer viu

Qualquer chama que no peito surgiu

Pois vejo em mim e canalizo em ti

Pensando sermos todos sempre iguais -

A raça humana, sujeita ao devir

Mas tu não, nunca foste: tu destroça

A maldade nesta alma desolada

João Pedro Garcia Castro
Enviado por João Pedro Garcia Castro em 12/10/2017
Reeditado em 10/05/2018
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