Teu coração virtuoso (retranca)
1
Quando o vi, co'aquele ar tão jovial
Correndo, andando acompanhado
O seu semblante um fado tal
Me atacou o espírito cansado:
Misto de ódio o peito tão amargo
Triste penúria por ser rebaixado
Senti que a tua tão majestosa graça
Desonrada pelo fel de meus braços
Tinha direito em ser recompensada,
Inda que tu pouco caso fizesses
Do deleite em voga, e suas benesses
2
Fugi na angústia, reservei-me a dar
Ao ser egóico um tépido suspiro
Ataquei-o, dei-lhe longo soluçar
Pois tu não mereces estar comigo!
Como podes tu fulgurar a mim?
Eu, filho descendente de Caim?
Aceitando minha condição, dei
Permissão mental para que tu fosses
Para onde fosses, ora! Eu deixei...
Mas tu és à inocência tão servil...
Surpreende meu tão bobo peito vil!
3
Voltaste a mim, como sempre fizera
Inda co'a chance de deleite eterno
Ou fugaz, que seja!; Não dera ao terno
Fogo a explosão da vontade efêmera
Talvez sequer o teve, sequer viu
Qualquer chama que no peito surgiu
Pois vejo em mim e canalizo em ti
Pensando sermos todos sempre iguais -
A raça humana, sujeita ao devir
Mas tu não, nunca foste: tu destroça
A maldade nesta alma desolada