O POETA ATAREFADO
A folha da palmeira agitada
me conta que a manhã será bela;
do alto de sua mansão avarandada
espia, debruçada, em sua janela...
Sabe que a vida passa, passageira,
no trem da energia que grita as estações,
vivam felizes!, viver não é brincadeira
no playground dos corações...
O vento de ontem verá o pó do futuro
a rodopiar na densa noite de bombas-relógio;
sem pés, suspenso na casa sem muros,
mostra e explica ao homem o óbvio...
Cada castelo terá seu rei por uma eternidade,
cada eternidade um momento de reflexão:
o que falta ao mais sábio em sapiência e verdade
dizer a cada ser vivente sobre este perigoso chão?
De novo, de novo, de novo, de novo, de novo,
o livro mais bonito escrito está na água e no ar:
ao quebrar a casca busque voar sobre o povo
que vem, faminto, pela selva, pela erva, pelo mar...
Cansa dizer a mesma coisa cada segundo?,
diz o poeta atarefado em compilar dados
de versos voadores como planadores no mundo,
a escolha do homem será seu perdão ou pecado...
Dê-me um grão de sua imaginação,
um rabisco da poesia que te fará feliz,
seremos dois a flutuar sobre a razão,
o pólen da plenitude a roçar o nariz...