Nossa Casa

...repartirei o canto da terra tímido,

que nasce,

Entre as árvores e os passarinhos,

Por detrás daquela serra;

Agonizarei minha dor náufraga

no labor das ondas inconformadas da vida,

Acompanhadas

de tantas páginas marcadas ,

e tão sofridas.

Hei de alcançar todas as manhãs,

Como inspiração,

Em nossa embarcação intima

A ser levada à brisa de tuas velas,

A luz da arandela, desfraldada,

Ouvindo cada pausa da respiração,

Retida numa cela reservada

em tua prisão,

...renascerei novamente,

Agitarei meu coração,

Com as batidas do mar cortando o meu rosto

ao sabor do vento,

Trazendo a luz

Para o relento que se faz calar,

Ao ver o dia finalmente brilhar

Calhado ao doce afeto,

Com o palpitar

semeando o germe da tua canção

em nossa poesia,

Como se vivêssemos da mais louca paixão

Até o fim de cada dia,

Quando, juntar-se-ia a nós, feliz por fenecer

o por do sol ,sem nenhum pudor,

Para, então, entardecer,

E juntinho, morrer conosco de tanto amor...

https://www.youtube.com/watch?v=e4vI9U6K69w

Olhe para a sua vida. Se você interromper o que quer que esteja fazendo, o que será perdido? Nada se ganha com o seu fazer. De manhã à noite você se ocupa com coisas triviais. Então, no fim do dia, fica cansado e vai dormir. Na manhã seguinte está pronto para reiniciar outra vez as mesmas coisas não-essenciais. É um circulo vicioso: um não-essencial encontra um outro não-essencial e os dois se ligam. Mas você tem tanto medo de olhar a trivialidade da vida que se mantém sempre de costas para ela. Se a olhar, você sentirá muita depressão, pensará: “O que estou fazendo?”

Se você vir que tudo o que está fazendo é absolutamente inútil, seu ego estará perdido. O ego pode sentir-se significante somente quando você está fazendo algo significante. Por isso você cria significados para as coisas triviais. Sente que está desempenhando grandes feitos para a nação, para a família, para a humanidade; como se, sem você, a existência fosse acabar. Nada do que você está fazendo é importante. Mas você tem de dar significado a tudo, porque por meio da significação seu ego é alimentado e fortalecido.

Na ignorância, tudo é não-essencial. O que quer que seja feito – mesmo sua meditação, sua prece, sua ida ao templo –, tudo é trivial. Até mesmo sua prece não é mais profunda do que a leitura de um jornal. Porque a questão não é a prece, é você. Se você tem profundidade, então cada movimento, cada ação é um ato de profundidade. Mas quando ela não existe, mesmo ir a um templo não faz nenhuma diferença: você entra no templo como se estivesse entrando num hotel. Você é o mesmo: assim, se é um templo ou um hotel, isso não faz diferença. Dê a uma criança um brinquedo caríssimo feito de diamantes. Ela fará com ele o mesmo que faria com um brinquedo comum, porque é uma criança. Brincará com ele por alguns momentos; depois o jogará num canto e irá embora.

Sua profundidade traz profundidade às suas ações. Quando um Iluminado levanta um dedo, até mesmo isso é importante, profundo, repleto de significado. Por que Gutei costumava levantar um dedo “quando costumava explicar alguma questão sobre o Zen”? Não sempre – apenas quando explicava uma questão sobre o Zen? Por que? É porque estava explicando e demonstrando ao mesmo tempo. Pois o que quer que se pergunte sobre religião, um dedo erguido é a resposta.

Todos os seus problemas existem por não ser um. Porque está fragmentado, em desunião, em caos – não em harmonia. O que é Zen, o que é Yoga, o que é Meditação? Nada mais do que chegar à unidade. A própria palavra “Yoga” significa unidade, único, total.

As pessoas têm seus próprios valores e olham tudo com base neles. Um iluminado está numa dimensão totalmente diferente: vive sem valores, sem critérios, sem moralidade; vive simplesmente sem o ego. E todos os valores pertencem ao ego. Um iluminado simplesmente vive. Ele não manipula sua vida; é como uma nuvem branca flutuando. Não tem para onde ir, nada para alcançar. Para ele, nada é bom ou mau. Não conhece nenhum Deus, nenhum demônio. Conhece apenas a beleza que a vida é na sua totalidade.

Um iluminado sempre tem alguma semelhança com um louco. Portanto, a primeira coisa a ser compreendida é: não avalie um iluminado com base nos seus próprios valores. Isso é muito difícil – mas o que mais você pode fazer?

Segunda coisa: um iluminado age do centro, nunca da periferia. Você sempre age a partir da periferia, você vive nela, na circunferência. Para você, ela é o que existe de mais importante. Você mata a sua alma para salvar o seu corpo. O iluminado pode sacrificar o seu corpo, mas não permite que a sua alma se perca. Está pronto para morrer a qualquer momento; isso não é mais um problema. Mas ele não está disposto a perder o seu centro, o âmago do seu ser.

Para o iluminado, o corpo é apenas um meio. Se for necessário, ele lhe dirá: – Deixe o corpo, mas não abandone o seu interior. É assim que toda tapascharya, toda a sua austeridade nasce. A circunferência tem de ser sacrificada em favor do centro. Se for necessário cortar a cabeça – se isso auxiliar, se com a sua cabeça o ego cair, o Iluminado lhe dirá: “Abandone a cabeça. Não a carregue. Ela mantém o ego. Por nada, você está perdendo tudo!”

Isto deve ser lembrado: quando se vive no centro, a perspectiva é totalmente diferente. Então, ninguém morre, ninguém pode morrer – a morte é impossível. Quando se vive na periferia, todos morrem. A morte é o ponto final para todos. Não há vida eterna.

Quando Krishna fala à Arjuna, no Gita, é realmente o centro falando para a periferia. Arjuna vive na periferia, pensa a partir do corpo, não sabe coisa alguma sobre a alma. Krishna fala do centro: “Não se preocupe com esses corpos. Eles já morreram muitas vezes e ainda morrerão. A morte é apenas uma transformação: como alguém que deixa suas roupas, sua velha casa, e entra numa casa nova. Esses corpos não são nada. Não se preocupe com eles, Arjuna. Olhe para o interior!” Mas como pode Arjuna olhar para o interior dos outros se ainda não conseguiu olhar para o seu?

Lembre-se: este Mestre Zen Gutei é Krishna. Vive do centro e age de acordo com ele. E esse incidente ocorreu com um discípulo que estava na periferia. Gutei poderia não ter cortado o dedo dele. Mas o discípulo valia isso, ele merecia. Só quando o discípulo merece é que o Mestre vai a tal extensão. Para Gutei ter chegado a tal extensão, o discípulo deve ter aprendido, deve ter merecido; de outro modo, Gutei não teria feito isso. Mesmo Arjuna não valia tanto quanto esse discípulo de Gutei porque Krishna apenas falou com ele, enquanto Gutei fez algo.

Observe a diferença. Um Mestre só chega a agir quando você merece. Do contrário, ele apenas fala. A ação só ocorre quando você está pronto, quando o momento está tão próximo que não pode ser perdido; quando nada pode ser dito; pode apenas ser feito. Quando uma pessoa fala, um tempo é necessário: o outro tem de compreender o que foi dito. Algumas vezes, algo tem de ser feito imediatamente, instantaneamente. Mas o mestre só o faz quando você está na beira. Então, falar não ajudará; é preciso empurrá-lo; você está bem na porta. Se um simples momento passar, a oportunidade estará perdida. E muitas vidas talvez sejam necessárias para você chegar novamente à porta.

A vida é muito complexa. Raramente se está perto da porta. Se o Mestre diz: “Olhe, a porta está aqui!” e começa a lhe explicar, até você compreender a porta não estará mais lá. A vida está em constante movimento. O Mestre precisa fazer algo. Se ele achar que matá-lo irá auxiliar, ele o matará. Eis por que a rendição é necessária.

A rendição não é fácil porque render-se significa dizer ao Mestre: “De agora em diante, minha vida e minha morte são suas. Estou pronto. Se você disser ‘morra’, eu morrerei sem perguntar por quê”.

Se houver pergunta, a rendição não existirá, nem a confiança. Nos velhos tempos, muitas pessoas conseguiram iluminar-se porque puderam render-se. A confiança estava na própria atmosfera, a fé circundava tudo, a confiança florescia em toda parte. Não era possível passar um dia sem cruzar com um homem cheio de confiança. E um homem com confiança é uma pessoa tão maravilhosa que, ao vê-lo, você sente ciúme.

Hoje em dia, isso tornou-se quase impossível. É difícil conseguir cruzar com um homem desses. Essa beleza desapareceu. Só se cruza com céticos, com pessoas cheias de dúvida que sempre dizem não. Elas são feias, mas estão por toda parte. Então, pouco a pouco, você também se enche de dúvidas. Desde o primeiro dia, desde a primeira vez em que sua mãe o amamentou, você tem se alimentado de dúvidas. Todas as descobertas da ciência dependem da dúvida. É preciso ser cético, duvidar; só assim a ciência pode trabalhar.

A religião trabalha num rumo totalmente oposto. É preciso ser confiante, é preciso dizer um profundo sim; só assim a rendição é possível.

Osho

O Mestre Zen Gutei

Tinha o costume de erguer um dedo

Ao esclarecer uma questão sobre o Zen.

Um discípulo muito jovem começou a imitá-lo:

Quando alguém lhe perguntava

A respeito do que seu Mestre havia pregado,

Ele erguia um dedo.

Gutei ficou sabendo disso.

Um dia, ao encontrar o menino imitando-o,

Pegou o dedo do discípulo, puxou uma faca,

Cortou o dedo e jogou-o fora.

Enquanto o menino corria, berrando,

Gutei gritou: “Pare!”.

O menino parou- virou-se

e olhou para o seu mestre através das lágrimas.

Gutei estava com um dedo levantado.

Quando o rapaz foi levantar o seu,

Percebeu que o seu dedo não estava lá

E inclinou-se.

Nesse instante, tornou-se iluminado.

“O Mestre Zen Gutei tinha o costume de erguer um dedo ao esclarecer uma questão sobre o Zen.”

Os Mestres nunca fazem algo desnecessariamente, nem mesmo levantar um dedo. O desnecessário desapareceu. Com o Mestre, existe apenas o essencial. Ele não fará um simples movimento, um simples gesto, se isso não for essencial. O não-essencial existe com a ignorância. Com ela, o que quer que se faça é trivial, não-essencial. Se for paralisada, nada estará perdido.