A derivada da Rosa

A derivada da Rosa

Mais uma vez vieste vestida de púrpura

qual multidão a se entregar.

Fui um lavrador selvagem querendo escavar-te.

Mais uma vez vieste vestida em fogo

querendo queimar-me com tua pele.

Há uma só hora que o ciúme arrebata,

é a hora em que esqueço tudo e amo-te,

minha vingança é amar-te apesar de tudo:

do pretérito perfeito e imperfeito,

do futuro que não teremos alados um ao outro,

minha vingança é apenas amar a ti.

Teus olhos de ausência engolem paixões

que nunca foram mais que um caso perdido,

eu persistirei em ti, rosa com espinhos encantados,

porque tenho sede e ânsia e falta de limite e meu caminho é indeciso muitas vezes.

Recordo como se fosse ontem, como eras.

És a mesma, mas agora mais madura.

Recordo teus olhos infantis mas que já queimavam

o crepúsculo e recordo teu jeito, tuas manhas

de gatinha, tua felinidade, recordo teu ciúme e tudo.

Recordo ainda que uma fornalha engolia-me

quando via-te e quando transmitias ciúmes,

que embora em fogo tu eras também neve,

que apesar de tudo éramos dois em um

e que até onde pudermos seremos vagos amantes.

Há dez anos tudo desmoronou para ser

levantado novamente, mais uma vez colada em mim

como uma planta de jeito encantador.

Tu eras, és o fogo em que minha sede arde,

pedra preciosa sobre minh'alma errante.

Hoje sinto teus olhos partirem ara longe:

coração aventureiro onde foram meus desejos

e beijos felizes como larvas de vulcão.

Escutas-me de longe mas não alcanço -te,

então deixe que a noite repleta de estrelas brilhe.

Por todo esse tempo esperei uma palavra de tua língua forte

de tua boca estrelada, esperei um sorriso

de teus lábios feito néctar, esperei tanto

por isso para que enfim ficasse alegre,

feliz de que a verdade é que fui teu e tu foste minha.

Amei-te, e às vezes tu amaste-me,

também em noites como a última

após tantos anos eu tive teu calor,

cheirando tua pele aberta e beijando teus lábios.

Tu amou-me e às vezes eu também amei-te.

Já não amamos-nos como antes,

é verdade, mas quanto amamos!

Hoje procuro um meio para tocar em ti,

seja minha voz ao vento ou outra coisa,

quero alcançar-te mais uma vez.

Dói-me n'alma saber que serás tocada

por outras mãos, como depois do dia que foste

embora para longe de mim, dói-me

saber que desde teus olhos até tua voz serão

dirigidos para outro, dói-me não ter-te comigo.

Talvez seja como tu falaste: o tempo dirá

se ainda retomaremos nosso romance,

tudo foi tão curto, mas a distância foi longa

como a espera para rever-te.

Que o tempo conspire a nosso favor.

Algumas palavras para a derivada da Rosa

O teu cheiro que anuncia lembranças e sensações de outra era e sonhos intocáveis até então.

A tua pele que toquei e que é tão macia e delicada, realmente uma rosa.

O teu corpo inconfundível que tudo plasmou-se desde o passado até o presente que vieste até mim.

As tuas picantes curvas de uma deusa grega que desperta desejos feito fogo para se queimar entre quatro paredes.

Eu quero tudo isso, eu quero queimar-me com teu fogo. Sei que tu és uma fonte que desperta desejo, senti quando tocou-me extremamente e quando derramou-se em mim.

No fundo sei que tu nutris um sentimento ínfimo por mim. Talvez seje maior, como o meu. Mas embora sabendo que não sou tudo que queres sei que sou alguém de teu passado que teima em aparecer em teu presente marcado por tantas peripécias.

Tu foste uma grande estrela a brilhar no meu céu.

O passado não volta mais e isso é fato. Mas ele pode ser transfigurado para o futuro embora jamais semelhante.

E penso que não queres viver o mesmo ou algo tão semelhante. Será que estou certo?

A maior prova de amor é deixar livre quem amamos. O amor não permite erros. Ele perdoa mas não automaticamente. Por isso devemos valorizar muito quem amamos apesar de tudo que nos cerca.

Leandro Ferreira Braga
Enviado por Leandro Ferreira Braga em 03/01/2018
Reeditado em 19/01/2018
Código do texto: T6215950
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