Droga

Sou droga alucinógena,

plantada num canteiro

sem nome,

e que transita nas veias

das junkies me desejam.

Injecto o soro da vida,

prazer irrecusável

das mulheres vagabundas

que anseiam por mim,

dando-lhes tudo,

dando-lhes nada.

Sou tara e magia,

a treva que ilumina,

que circula e enfeitiça

que ergue e que derruba,

que alimenta e vicia.

Sou de todas

e de nenhuma,

transo com gregas

e com troianas,

sou da noite e sou do dia.

Sou de todas e de

nenhuma.

Mato… e ressuscito,

sem fronteiras.

Sou cidadã(o) do mundo.

Sou inclemente, ou cruel,

sou amado(a) e não amo.

Deito-me na praia,

corro a cidade, morro

num barranco infecto

para lá dos limites dos

olhares acusadores.

Faço música com as

pútridas poetas da vida,

versejo com as sobras

das humanas condições,

converso com as parasitas,

parasito-me nas conversas.

Sou droga alucinógena,

feito homem…

para mulher consumir.