Chuva
O céu desaba neste pranto silencioso
mas constante
Escondeu-se não sei onde o belo canto
concertante das aves habitantes das árvores
da rua
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Hoje não há céu azul lá no alto
Apenas este fundo cinzentão
e dentro dele se desenham
os prédios vermelhos do outro lado
da rua
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Uma gaivota poisa estática sobre uma
chaminé
As antenas sobre os telhados
continuam a ligar os pequenos lares
à amplidão do vasto mundo
E os carros continuam a passar
a correr indiferentes e ruidosos
na solidão
da rua.
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A chuva inunda as nossas almas
de solidão e isolamento
As roupas que enxugavam nos arames
sob as janelas suavemente baloiçam
no vento
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Os prédios ficam todos lavados
por fora
Enquanto lá dentro continuam
os mesmos dramas e os mesmos
movimentos
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As breves plantinhas dos breves jardins
erguem-se nos caules frágeis
com renovado brilho
e seu brando vigor
vem sorrindo para mim
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Myriam Jubilot de Carvalho
2 de Março de 2018
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