Pega na chave

Pega na chave

Abre ainda estas gavetas fechadas

Descobre o que mais ainda possa existir

Com mais ninguém sou já capaz de ser como sou contigo

E não sei que sou se não tua

A ti vendi a minha alma

Só tu existes em mim

Fecho os olhos

e ao ver-te inteiro percebo que para ti me fui

E sorrio…

Vou contigo

Vamos esconder-nos no fundo do tempo

onde o teu suor sabe sempre a gelado de baunilha

e onde por vezes a minha boca sabe a sal

e o teu corpo a pimenta

Onde me cheiras à luz de um dia de verão

aos ramos verdes do jardim da minha rua

às gargalhadas dos grupos de adolescentes que passam a nosso lado

Onde me cheiras a tudo e tudo me cheira a ti,

talvez porque te amo…

Sou agora apenas o instante em que me torces debaixo de ti

para me impedir de fugir-te quando procuras o que talvez ainda reste em mim

Impões a tua saliva na minha pele

em todos os meus poros

Já não sei onde ou a quem pertenço

Trair-me

é não te ter tocando todas as sonatas do meu corpo

não te sentir por dentro onde me arrepias a pele até ao fim

onde começo a loucura de te querer

e onde afogo a imensidão deste desejo

Isabel Afonso
Enviado por Isabel Afonso em 15/04/2018
Código do texto: T6309665
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