Vales de solidão impiedosa,

Vales de solidão impiedosa,

abismos de vazio que corta a pele,

foi donde me tiraste, graciosa,

mas repeti: "Senhora me flagele!"

Houve que, destruído à venenosa

história que o passado não digere,

tornei-me suicida, e a cuidadosa

pensou que é qualquer tolo que a merece.

Foi Deus do amor que a trouxe de tesouro

como quem joga pérolas a porco.

Mas se essa chance sacra tive em vida,

chance pela qual rei se faz de inseto,

não me permito que a alma corrompida

mate o futuro límpido que quero.

Porque apesar da dor da má ferida

mantenho uma centelha a fogo certo

mandando -- para ti, santa heroína,

não há desculpa ao medo nem do inferno.

Por ti, todos os traumas carregados

não são desculpa aos modos estragados.

És doce amor: perene na bondade,

constante na presença e paciência,

a ponto de me ver fazendo idade

sem zangar-se com minha atroz demência.

Aprenderei por ti, puro milagre,

a me purificar na quintessência

para ser-te mais forte em hombridade

no lugar deste poço de carência.

Aprenderei, pois, bela como fada,

fazes um pobre sonhar em ter-te amada.

Malveira Cruz
Enviado por Malveira Cruz em 04/05/2018
Reeditado em 16/05/2018
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