Fugiu do Peito
O que já foi segredo fugiu do peito,
saltou da língua, olimpicamente
e correu a rua, dobrou a esquina,
desceu a ladeira, e, lá longe,
sumindo de vista borrou o horizonte,
de vermelho vivo e calmo
O que já foi segredo soprei ao vento,
escrevi em cartazes, em faixas de avião,
montei nas sopas de letrinhas
e vandalizei nos muros e viadutos,
rabisquei no chão
está todo exposto, o medo, o amor e o desgosto
E me apavora sempre o nunca
das felicidades que invento
no silêncio que antecede o sono,
sonhos que voam ao vento