Ode II - O jovem deus do Amor dormindo, um dia
I.
O jovem deus do Amor dormindo, um dia,
ao lado seu deixou mas sem cautela
a seta cujo ser que ela atingia
caía apaixonado ao toque dela
das ninfas que ali estavam na água fria
ergueu-se a mais casta, pura e bela
Olhando entre as flores do jardim
aquele novo e cego serafim
II.
Aproveitando então o sono e o ensejo
Roubou-lhe, logo, a flama santa e rara
Com a qual o amo alado do desejo
Legiões de corações incendiara
Cobrindo o alvo peito em puro arquejo
Voltou-se para dentro d'água clara,
E a seta que mil deuses já cegou
na fonte aonde estava mergulhou.
III.
Assim que a mão virgínia e delicada
banhou-a sobre o líquido cristal
a água pura viu-se transformada
num bálsamo celeste e divinal
na qual entrasse alma transtornada
de pronto era curada de seu mal
Pois beijada pelo seu perpétuo ardor.
Acesa foi com o fogo do Amor
IV.
Mas eu já totalmente consumido
Pelo fogo vivo e santo da paixão
Que encendeia o peito combalido
Onde vive e mora o coração
Correndo rumo às águas desvalido
Buscando u'a gota só de compaixão
Vejo que ali não posso achar m'ia cura
mas onde fui ferido - em tua vista pura.