Ode II - O jovem deus do Amor dormindo, um dia

I.

O jovem deus do Amor dormindo, um dia,

ao lado seu deixou mas sem cautela

a seta cujo ser que ela atingia

caía apaixonado ao toque dela

das ninfas que ali estavam na água fria

ergueu-se a mais casta, pura e bela

Olhando entre as flores do jardim

aquele novo e cego serafim

II.

Aproveitando então o sono e o ensejo

Roubou-lhe, logo, a flama santa e rara

Com a qual o amo alado do desejo

Legiões de corações incendiara

Cobrindo o alvo peito em puro arquejo

Voltou-se para dentro d'água clara,

E a seta que mil deuses já cegou

na fonte aonde estava mergulhou.

III.

Assim que a mão virgínia e delicada

banhou-a sobre o líquido cristal

a água pura viu-se transformada

num bálsamo celeste e divinal

na qual entrasse alma transtornada

de pronto era curada de seu mal

Pois beijada pelo seu perpétuo ardor.

Acesa foi com o fogo do Amor

IV.

Mas eu já totalmente consumido

Pelo fogo vivo e santo da paixão

Que encendeia o peito combalido

Onde vive e mora o coração

Correndo rumo às águas desvalido

Buscando u'a gota só de compaixão

Vejo que ali não posso achar m'ia cura

mas onde fui ferido - em tua vista pura.

Marco Fabricio
Enviado por Marco Fabricio em 26/07/2018
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