ANTIGOS AMORES

Se um de nós morresse

após a única relação;

se a morte

chegasse no fim do soneto

em sua homenagem;

se naquela viagem ao inverno europeu,

a nevasca grudasse nossas mãos geladas,

antes do derradeiro suspiro

que receberia o além hollywoodiano

de olhares imperecíveis;

se a morte evitasse

a nossa eternidade de mesmo conjugado:

quanta beleza não salvaríamos?

Tuas mãos escorreriam

pelo meu sofrimento,

permaneceria em lembranças

teu antigo terno amarelo

e o aspirador da faxina semanal

jamais sugaria o pó dos meus desejos.

quando todo o resto do teu corpo coruscaria.

A rotina amorosa é uma praga.

A conta bancária,

o saldo conjunto,

os pratos na pia

usurpam o olhar amoroso,

o cílio postiço

antecede a paralisia do primeiro gozo.

Feliz são os homens,

diante do grande valor

da mulher escassa.

Eu não sabia disto, amor.

Felizes são as mulheres,

diante da incineração real dos maridos.

Elza Viana Araujo e Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Elza Viana Araujo em 02/08/2018
Reeditado em 26/11/2018
Código do texto: T6407110
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.