Ode I

Creio ser o mais bendito entre os mortais, oh doce minha amada, e até mesmo entre os deuses

quando contemplo os teus lindos olhos.

Custa-me explicar.

Nas mãos, a lira hesita e os lábios derramam suspiros.

O Amor, que há tanto me domina,

lança em mim todas as suas setas

e faz do meu coração o que ele bem quer.

Tanto em mim ele prova os seus contrários

que quando tu não estás comigo,

uma angústia me envolve

e eu, desejoso, de te ver

vou buscar-te em pensamentos.

O coração cria asas e sai voando pelos doces ares da paixão, onde não há tempo e nem distância.

De repente, um sono suave me sobrevém e, em insantes, adormeço.

O florido chão onde eu estava,

envolve-se num níveo manto e pouco a pouco desaparece.

Uma calma, uma inefável doçura inunda o ar,

como se anjos derramassem um suave bálsamo sobre a terra.

Já não sei onde estou.

Meus sentidos vão se arrebatando um a um

e já sem voz e sem peso, sinto estar andando sobre as nuvens.

Subitamente, o Amor aparece calmo e glorioso a me chamar

e de seus lábios saem juras de encontrar-te.

Eu, ouvindo suas juras, juro, quase me perco e em suspiros só lhe rogo;

em seus braços ele me envolve e me eleva, então, em suas asas para onde resplandece tua doce presença. Contemplando, enfim, tua linda face, os cabelos de ébano, os brilhantes olhos onde a paixão forja ardentes setas,

o seráfico gesto, a angélica boca cheia de rosas e pérolas e doces palavras, o gracioso sorriso, que me dá e tira tanto a paz, eu fico imóvel e espantado

mas ele quase sorrindo, vem e te leva para longe

eu sozinho volto a mim.

Meus sentidos retornam e eu desperto em prantos,

almejando ver-te novamente.

Se, no entanto, eu estou diante de ti,

Um terror profundo me domina,

e desejo sair correndo. Não compreendo.

Um fogo sutil me arde de veia em veia e me consome,

o peito estremece, o rosto empalidece

e o espírito se abala.

Uma névoa confusa me inunda o olhar,

o ar me falta e sinto os ouvidos zunir,

Um espírito suave cheio de amor me alcança

e no doce transporte da minha alma,

rouba-me, maravilhosamente, a voz dos lábios;

minhas forças se esvaem, o corpo se arrepia num gélido suor.

Eu caio num langor supremo.

E pálido e perdido e febril e sem voz eu quase morro...eu desmaio...

Marco Fabricio
Enviado por Marco Fabricio em 03/08/2018
Reeditado em 05/08/2018
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